Folha de S. Paulo


Líder supremo do Irã expressa dúvidas sobre acordo nuclear final

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, advertiu nesta quinta-feira (9) que o acordo preliminar concluído entre Teerã e as grandes potências em Lausanne (Suíça) sobre o programa nuclear de seu país não garante a assinatura de um compromisso definitivo até o fim de junho.

"O que foi feito até o momento não garante o acordo em si, nem seu conteúdo, nem sequer que as negociações cheguem até o final", afirmou Khamenei.

AFP
Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, participa de encontro com poetas religiosos em Teerã
Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, participa de encontro com poetas religiosos em Teerã

O aiatolá Khamenei, que tem a última palavra sobre as questões estratégicas do país, expressou-se pela primeira vez sobre o plano de ação concluído em 2 de abril que definiu os "parâmetros-chave para um acordo global com o grupo 5+1 (China, EUA, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha).

A República Islâmica e o grupo 5+1 concordaram em trabalhar até 30 de junho para tentar acertar os detalhes técnicos e jurídicos complexos do tema com o objetivo de concluir um acordo definitivo que acabaria com 12 anos de crise diplomática internacional.

O anúncio do acordo preliminar despertou entusiasmo entre a população iraniana, que espera uma retirada rápida das sanções econômicas que estrangulam a economia do país.

Mas o aiatolá Khamenei tem se mantido prudente quanto às chances de um acordo final, considerando que o texto de Lausanne não garante uma solução definitiva para a crise.

"Tudo foi detalhado. Pode ser que a outra parte, o que é injusto, queira limitar o nosso país nos detalhes", disse, reiterando que seu país não está tentando construir armas nucleares, como denuncia o Ocidente e Israel.

'NEM A FAVOR, NEM CONTRA'

Editoria de arte/Folhapress
PRESSÃO IRANIANA País tenta conseguir mais concessões das potências

Segundo uma versão do acordo preliminar divulgada pelos americanos, o Irã deve reduzir consideravelmente o número de suas centrífugas, que servem para transformar o urânio. Enriquecido a 90%, o material é utilizado para a fabricação de bombas.

Dessa forma, Teerã suspenderá por ao menos 15 meses o enriquecimento de irânio na usina subterrânea de Fordo.

Sobre as sanções, os países ocidentais desejam um levantamento progressivo da punição, de acordo com uma verificação dos compromissos do Irã pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Mas o Irã exige que todas as sanções econômicas contra o país sejam retiradas no primeiro dia da aplicação do acordo assinado com as grandes potências, segundo afirmou o presidente Hasan Rowhani.

"Não assinaremos nenhum acordo se a sanções econômicas não forem totalmente anuladas no mesmo dia de sua aplicação", declarou Rowhani durante um discurso por ocasião da Jornada Nacional da Tecnologia Nuclear.

Enquanto várias autoridades iranianas comemoraram os resultados das negociações na Suíça, o líder supremo disse que não "tomou uma posição" nessa fase.

"Não sou nem a favor nem contra", declarou, assegurando que "sempre apoiou e continua a apoiar a equipe de negociadores iranianos", criticada por alguns conservadores, que a acusa de ter feito muitas concessões.

DESCONFIANÇA DE WASHINGTON

O aiatolá Khamenei insistiu que o acordo deve preservar "os interesses e a grandeza da nação", salientando a necessidade de uma indústria nuclear para o desenvolvimento econômico do país e não para obter armas nucleares.

"A indústria nuclear é uma necessidade para a energia, para converter água do mar em água potável, no campo da medicina, agricultura e outros setores", disse. "Precisamos trabalhar e fazer mais progressos nessa indústria."

Apenas uma versão americana dos detalhes do acordo preliminar foi divulgada.


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