Folha de S. Paulo


Estudantes sul-africanos se mobilizam para remover estátua de colonizador

Com protesto e pressão política, em vez de marretadas, estudantes sul-africanos se mobilizam para remover das universidades do país estátuas que, para eles, representam um passado colonialista e opressor e não têm lugar nos dias de hoje.

A África do Sul se redemocratizou em 1994, depois de 46 anos sob o regime do apartheid, em que a minoria branca controlava o país politicamente e os negros eram cidadãos de segunda classe.

O caso mais emblemático ocorre na Universidade da Cidade do Cabo, onde uma estátua de Cecil John Rhodes (1853-1902), magnata britânico fundador da mineradora de diamantes De Beers e declaradamente eugenista, está prestes a ser removida do campus.

Em 9 de março, no que é tido como o marco do caso, um estudante atirou fezes na estátua –que fica à beira do campo de rúgbi da universidade desde 1934.

Em seguida iniciou-se uma campanha no campus e pelas redes sociais, sob a hashtag #RhodesMustFall (RhodesDeveCair).

Os manifestantes –que cobriram o monumento com sacos de lixo e estenderam cartazes comparando Rhodes ao líder nazista Adolf Hitler– estão acampados na reitoria à espera da remoção, que parece estar próxima.

Por 181 votos a 1, o "senate", órgão administrativo que delibera sobre questões acadêmicas, decidiu por remover o monumento.

A decisão precisa ser ratificada pela Conselho, o órgão máximo da instituição, o que é tido como provável.

A estátua já foi coberta com tapumes pela própria universidade. Se for mesmo removida, será transferida para custódia de órgãos de proteção do patrimônio.

"Isso ressuscita o poder dos estudantes, que mostraram que a união traz a força. Depois da remoção da estátuas, vamos lutar por maior espaço e participação para alunos e funcionários negros", afirmou Chumani Maxwell, o líder do movimento que atirou fezes à estátua.

Mike Hutchings/Reuters
Homem fotografa estátua coberta do colonizador britânico Cecil John Rhodes, na Cidade do Cabo
Homem fotografa estátua coberta do colonizador britânico Cecil John Rhodes, na Cidade do Cabo

ONDA

O caso Rhodes inaugurou uma onda de protestos semelhantes pelo país. Uma entidade nacional de estudantes exige que a Universidade de KwaZulu-Natal, em Durban, remova do seu campus os símbolos da "era da minoria branca".

Uma estátua do rei George 5º (1910-1936) foi alvo de um banho de tinta branca na semana passada. Os defensores da manutenção das estátuas argumentam que os novos tempos não podem apagar a história do país nem seus símbolos.

No caso de Rhodes, alega-se também que ele não foi só um colonialista racista, mas também um dos grandes empreendedores do país e importante benfeitor, que doou o terreno onde foi instalado o campus e milhões para a expansão da universidade.

O magnata dá nome a outra universidade local, onde também tem havido protestos, e sua imagem se espalha pela Cidade do Cabo, desde o Memorial Cecil John Rodes (onde recém-casados costumam ir para serem fotografadas ao lado do busto dele) até o Company's Gardens, belo jardim no centro da cidade em cuja alameda central repousa outra estátua sua.

Um articulista contrário à remoção chegou a comparar Rhodes ao rei zulu Shaka (1787-1828), idolatrado por parte da população negra, cuja ambição por terra e poder também causou opressão e morte a tribos rivais do país na época.

O jornalista FABIO VICTOR viajou a convite da South African Airways e da South African Tourism.


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