Folha de S. Paulo


ONU acredita que Estado Islâmico cometeu genocídio no Iraque

O milícia radical Estado Islâmico (EI) pode ter cometido no Iraque os três crimes internacionais mais graves - genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra -, segundo um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgado nesta quinta-feira (19).

"O esquema manifesto de ataques contra a minoria yazidi indica a intenção do EI de destruir os yazidis como grupo, o que sugere claramente que o EI poderia ter cometido um genocídio", aponta o relatório.

Rodi Said - 11.ago.2014/Reuters
Deslocados da minoria yazidi fogem da violência do Estado Islâmico no Iraque
Deslocados da minoria yazidi fogem da violência do Estado Islâmico no Iraque

O documento foi feito com base nas investigações do Alto Comissariado inciadas no fim de 2014. Uma missão das Nações Unidas no Iraque entrevistou mais de em de pessoas que sobreviveram aos ataques do EI entre junho de 2014 e fevereiro de 2015.

O relatório documenta o assassinato de centenas de homens e adolescentes yazidi no noroeste do Iraque em agosto do ano passado, os quais foram mortos a sangue frio após serem separados de suas mulheres e de seus filhos.

As mulheres, por sua vez, foram sequestradas como "botim de guerra" e vendidas como escravas sexuais.

Com minuciosidade, o relatório reconta como meninas yazidi de entre seis e nove anos foram violentadas repetidamente pelos radiciais, e como estes combatentes tentaram provocar abortos em mulheres grávidas ao agredi-las repetidamente.

Já as crianças menores de 15 anos foram recrutadas, obrigadas a se converter ao Islã e receberam treinamento militar, sendo inclusive obrigadas a ver decapitações.

A comunidade yazidi é uma minoria religiosa estabelecida no Curdistão - território repartido entre Turquia, Iraque, Síria e Irã -, seguidora de uma antiga religião monoteísta pré-islâmica.

O EI infligiu um tratamento brutal a outros grupos étnicos, entre eles os cristãos, os turcomenos, os sabenos, os mandeanos, os kaka'e, os curdos e os xiitas, destaca o documento.

O relatório documenta também atrocidades cometidas pelo exército iraquiano e pelas milícias oficiais, entre elas assassinatos, torturas, sequestros e deslocamentos forçados.

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Segundo o texto, durante o verão de 2014, enquanto a operação contra o EI progredia, as milícias ligadas ao governo iraquiano "operavam com total impunidade, deixando um rastro de mortes e de destruição".

Como indica um testemunha incluída no relatório, "quando o exército iraquiano e os 'voluntários' nos libertaram do jugo do EI, esperávamos que as coisas fossem melhorar. Ao invés disso, pilharam e queimaram as casas argumentando que todos éramos do EI".

O relatório conclui lembrando ao governo iraquiano que é sua responsabilidade assegurar-se que toda as forças, grupos e unidades armadas organizadas sejam postas sob um comando único responsável do comportamento de seus subordinados.


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