Folha de S. Paulo


Novo secretário-geral terá desafio de tornar papel da OEA mais relevante

Em uma eleição sem concorrentes, o ex-chanceler uruguaio Luis Almagro foi aprovado, nesta quarta (18), para o posto de secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), em meio a uma crise de representatividade do bloco.

Após sua confirmação, ele prometeu "renovar" a organização, enfraquecida nos últimos anos por uma polarização política no continente.

Eleito com 33 dos 34 votos —houve uma abstenção—, Almagro, 51, assume no fim de maio com o desafio de tornar o papel da OEA novamente relevante, diante da atuação de outros fóruns regionais como a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) e de um orçamento enxuto de US$ 84 milhões.

Nicolás Celaya/Xinhua
Uruguaio Luis Almagro, eleito novo secretário-geral da OEA
Uruguaio Luis Almagro, eleito novo secretário-geral da OEA

O sinal mais recente do enfraquecimento do bloco -que teve à sua frente o chileno José Miguel Insulza, 71, nos últimos dez anos- foi a omissão da OEA sobre a crise interna na Venezuela.

Restou à Unasul assumir o papel de mediadora do diálogo entre governo e oposição.

"Não me interessa ser o administrador da crise da OEA, mas o facilitador de sua renovação", disse Almagro.

Ele diz ter identificado, durante a campanha, a principal demanda dos membros do bloco: "Fortalecer institucionalmente a OEA e dar-lhe credibilidade jurídica".

Sobre a divisão ideológica do continente, inflamada pelas sanções aplicadas pelos EUA contra a Venezuela na semana passada, Almagro afirmou que não é papel da OEA "radicalizar conflitos". "A OEA deve estar envolvida nas soluções, deve aproximar posições e resolver problemas."

O uruguaio assume o posto após a Cúpula das Américas, em abril, no Panamá, a primeira com a presença de EUA e Cuba. A ilha, suspensa da OEA em 1962, teve seu retorno aprovado em 2009, mas se recusou a voltar. O ditador Raúl Castro foi convidado para a reunião pelo Panamá.

O reingresso de Cuba, em um momento em que o regime se reaproxima de Washington, será também um dos grandes desafios de Almagro. Na quarta, ele destacou que o bloco tem a "obrigação de gerar uma agenda política e de diálogo com Cuba, que vá aproximando as partes".

Para Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas, Almagro deve enfrentar especial dificuldade em criar consenso em áreas como "promoção dos direitos humanos" e na garantia de "eleições livres e justas" no continente.

"Ele vai precisar de novos mecanismos que permitirão à instituição avançar em áreas prioritárias, mesmo quando nem todos os membros concordem com a decisão", diz.

Almagro foi chanceler de José Mujica entre 2010 e 2014 e, no último ano, foi eleito senador no Uruguai. Seu mandato na OEA é de cinco anos.


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