Folha de S. Paulo


EUA criticam 'retórica da divisão' em Israel após vitória de Netanyahu

No dia seguinte às eleições israelenses que devem dar novo mandato a Binyamin Netanyahu, a Casa Branca expressou nesta quarta-feira (18) preocupação quanto ao uso de "retórica de divisão" pelo premiê israelense.

Durante o pleito, Netanyahu havia alertado a população quanto ao fato de que árabes-israelenses —cidadãos do país— compareceram em grandes números às urnas.

Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, reiterou ainda o apoio americano à solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos. Na segunda-feira (16), Netanyahu havia dito que não permitirá um Estado palestino durante seu mandato.

As declarações dão conta do mal-estar causado, na Casa Branca, pela eleição de Netanyahu. O jornal local "Jerusalem Post" afirma haver nos EUA surpresa e desapontamento com o resultado.

À Folha Raanan Rein, vice-presidente da Universidade de Tel Aviv, afirmou que a eleição de Netanyahu "pode acelerar o processo de mais pressão sobre Israel e causar ameaças de sanções para diminuir a construção nos assentamentos". "A administração americana pode, também, acelerar as negociações com o Irã" como resposta.

O Likud, partido de Netanyahu, ganhou 30 assentos no Parlamento, contrariando as pesquisas que previam sua derrota. Seu rival, Isaac Herzog, obteve 24 cadeiras para sua União Sionista (centro-esquerda). Herzog disse que sua única "opção realista" será permanecer na oposição.

A vitória de Netanyahu não significa automaticamente que ele será o próximo premiê. A tarefa de montar um governo deve ser concedida pelo presidente Reuven Rivlin na próxima semana. Mas o Likud parece ser o partido com as melhores chances de fazê-lo.

A perspectiva é que Netanyahu forme o governo nas próximas semanas, incluindo os partidos Kulanu (centro), Casa Judaica, Yisrael Beitenu (direita), Shas e Judaísmo da Torá Unida (ultraortodoxos). Seria um Parlamento dominado pela direita.

Também é possível que seja criado um governo de unidade, apesar de haver oposição no Likud e na União Sionista em relação a esse projeto -que seria conveniente a Netanyahu para evitar pressão internacional sobre um governo de direita.

A vitória de Netanyahu, que surpreendeu o país, levou a um enfraquecimento da esquerda. Zehava Galon, líder do partido Meretz, disse que renunciará ao cargo após receber apenas quatro cadeiras no Parlamento.

Jonathan Rynhold, cientista político da Universidade de Bar Ilan, diz que o resultado não é exatamente surpreendente. "A política israelense não é sobre partidos, e sim sobre blocos. As pesquisas já mostravam um bloco forte na direita", diz à Folha.

Para Rynhold, eleitores migraram de outros partidos de direita e votaram no Likud após ver, nas pesquisas, o risco de que Herzog pudesse formar o seu governo.


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