Folha de S. Paulo


Acordo com Irã é ruim e não impede bomba atômica, diz premiê de Israel

Em discurso no Congresso americano nesta terça-feira (3), o premiê israelense Binyamin Netanyahu atacou o acordo que o governo Obama e outros cinco países tentam alcançar com o Irã até o final deste mês. "O acordo não impede que o Irã consiga produzir suas armas nucleares".

"Nenhum acordo é melhor que um mau acordo, estamos melhor sem ele", afirmou.

Diante de senadores e deputados, em uma rara sessão conjunta de Senado e Câmara, Netanyahu disse que o acordo é "cheio de concessões", permitindo uma "grande infraestrutura nuclear" no Irã e que nenhuma instalação nuclear no país seja destruída.

J. Scott Applewhite/AP
Em discurso no Congresso americano, Netanyahu diz que acordo com irã não impede bomba atômica
Em discurso no Congresso americano, Netanyahu diz que acordo com irã não impede bomba atômica

Ele criticou o período de vigência do acordo, como "curto", e a continuidade das centrífugas do programa nuclear iraniano.

Além disso, Netanyahu traçou diversos paralelos entre o governo do Irã e a milícia radical Estado Islâmico (EI).

"Irã e o EI competem pela coroa do islamismo militante. Eles são o 'Game of Thrones' mortífero onde não há espaço para EUA e Israel", discursou, em referência ao seriado de TV.

"Judeus não continuarão passivos diante do genocídio. Israel não ficará sozinho, mas a América está com Israel."

CONTROVÉRSIA

O discurso foi considerado uma quebra de protocolo pelo governo americano. Netanyahu aceitou o convite para discursar feito pelo presidente da Câmara, o republicano John Boehner, sem consultar a Casa Branca.

Depois, Obama disse que não receberia Netanyahu, alegando que a tradição é não receber mandatários estrangeiros no meio de campanha eleitoral (Netanyahu enfrenta eleições em duas semanas).

O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse que Obama não assistiria aos discursos do premiê israelense. A conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, disse que o discurso era "destrutivo".

Após a fala de Netanyahu, uma fonte da Casa Branca disse à CNN que o discurso não trouxe nenhuma nova ideia, "nenhuma alternativa concreta, só retórica, sem ação".

Tanto o secretário de Estado, John Kerry, quanto o vice-presidente americano, Joe Biden, que também é presidente do Senado, não se encontravam em Washington e tampouco viram o discurso.

Netanyahu foi aplaudido diversas vezes pelos senadores e deputados americanos. Disse que "EUA e Israel compartilham um destino comum, o de terras prometidas que valorizam liberdade e oferecem esperança".

BOICOTE

Apenas 12 dos 44 senadores democratas (de um total de 100 senadores) e 42 dos 188 deputados democratas anunciaram que não assistiriam ao discurso, o que demonstra que mesmo no partido de Obama a iniciativa de boicotar Netanyahu foi seguida por uma minoria.

Senadora mais à esquerda do partido, Elizabeth Warren, de Massachusetts, anunciou que não iria por achar que o discurso é "mais político e menos construtivo em endereçar o tema crítico da proliferação nuclear no Oriente Médio".

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Obama criticou duramente o convite republicano e disse que seria o mesmo se, às vésperas da invasão do Iraque no governo Bush, o Congresso dominado pelos democratas "convidasse o presidente da França para criticar a decisão". "Muita gente hoje celebrando diria que não é a coisa certa a se fazer", disse.

À rede CNN, a senadora democrata Diane Feinstein, disse que Netanyahu não ofereceu uma alternativa sobre o que fazer, se o acordo fracassar. "É prematuro dizer que não vai funcionar".


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