Folha de S. Paulo


Fábrica de lenços palestinos tenta sobreviver à concorrência chinesa

Em uma rua tranquila da cidade de Hebron, ao sul da Cisjordânia, funciona a fábrica de kufiyas (lenços) Hirbawi -a última da Palestina.

O lenço, símbolo do nacionalismo palestino, virou referência mundial quando o líder Iasser Arafat, morto em 2004, ganhou as manchetes internacionais vestindo a kufiya na cabeça.

Um retrato seu, de um metro de altura, na entrada da fábrica mostra a admiração dos membros da família Hirbawi por Arafat. Ao redor das máquinas barulhentas que produzem os lenços, outros três quadros pendurados homenageiam o primeiro presidente da Autoridade Palestina.

Tais Hirata/Folhapress
Interior da fábrica de kufiyas (lenços palestinos) Hirbawi, que fica em Hebron, na Cisjordânia
Interior da fábrica de kufiyas (lenços palestinos) Hirbawi, que fica em Hebron, na Cisjordânia

No início dos anos 90, época das negociações entre Israel e os palestinos que resultariam no Acordo de Oslo, a popularização do estilo provocou um boom nas vendas de kufiyas palestinas.

Para os Hirbawi, a moda foi um problema. Com o aumento da demanda, fabricantes chineses passaram a produzir o lenço -de pior qualidade e muito mais barato.

A concorrência fez com que a fábrica fechasse as portas por cinco anos, entre 1995 e 2000. "Foi uma época difícil para nossa família", afirma Judeh Hirbawi, 55.

Enquanto uma kufiya palestina sai por 40 NIS (shekel novo, moeda de Israel, equivalentes a R$ 26), a versão chinesa custa cerca de 15 NIS (R$ 10) -preços sempre negociáveis, como tudo nos mercados palestinos.
Em 2000, a família decidiu retomar as atividades. "Hoje, as pessoas conhecem nossa fábrica, querem comprar a original", afirma Judeh.

Ele assegura que a qualidade palestina é maior. "Você pode ver como nossos lenços são mais pesados, de algodão. Os chineses são de poliéster", diz. "Em um centímetro de tecido, os nossos têm quase o dobro de fios."

Com o mesmo nome de Arafat e o mesmo jeito de usar a kufiya, na cabeça, Iasser Hirbawi, 82, pai de Judeh, fundou a fábrica em 1961. A ideia veio da Síria, onde os lenços já eram usados. As máquinas vieram do Japão.

Hoje, quem cuida da fábrica são seus três filhos e um sobrinho. "Cresci aqui. Aos dez anos, já trabalhava fazendo kufiyas", conta Judeh.

Com ajuda de outros dez funcionários, a fábrica produz uma média de 200 kufiyas diariamente. "Vendemos tudo", afirma o filho.

As vendas são movimentadas por exportações para a Europa e pelo site da Amazon, de comércio on-line.

NADA DE AZUL

A maior parte dos compradores são turistas. Muitos usam os lenços para mostrar apoio à causa palestina. "Durante guerras, as vendas crescem ainda mais", diz Judeh.

No começo, só duas cores eram produzidas: a tradicional palestina, branca e preta, e a vermelha. Hoje, além das cores tradicionais, outros modelos coloridos ganharam as prateleiras da fábrica.

"Faço de todas as cores, mas azul não", diz Judeh, em referência às kufiyas com as cores da bandeira de Israel, vendidas em várias lojas de Jerusalém. "Mas, se eles [israelenses] quiserem vir comprar as nossas, vendo sem problema algum", acrescenta.


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