Folha de S. Paulo


Manifestação de estudantes marca um ano de protestos na Venezuela

Divididos e desmobilizados, estudantes se manifestaram nesta quinta (12) em várias cidades da Venezuela para lembrar o aniversário do início dos protestos que deixaram 43 mortos e resultaram na prisão de centenas de ativistas opositores em 2014.

A celebração de 12 de fevereiro gerou tumulto em San Cristóbal (oeste), onde disparos da polícia feriram vários manifestantes.

Em Caracas não houve violência, mas a comemoração deixou claro que o movimento estudantil está rachado entre facções mais e menos radicais que refletem as fraturas do campo oposicionista.

Carlos Eduardo Ramirez/Reuters
Estudante opositor é socorrido por amigos e policiais após ser atingido em protesto em San Cristóbal. na Venezuela
Estudante opositor é socorrido por amigos e policiais após ser atingido em protesto em San Cristóbal

Partidários da linha dura contra o governo do presidente Nicolás Maduro se reuniram ao final da manhã no portão da Universidade Central da Venezuela (UCV) e caminharam em direção a uma igreja próxima para celebrar uma missa em memória às vítimas do ano passado.

Mas a polícia isolou a igreja e impediu a chegada dos manifestantes, que não passavam de centenas, ao contrário das multidões que pediam a renúncia de Maduro no ano passado.

A missa acabou sendo celebrada na rua, com a presença da deputada cassada María Corina Machado, tida como opositora radical.

O líder estudantil Eusebio Costa criticou os opositores Henrique Capriles (governador de Miranda) e Jesus Torrealba (secretário-geral da coalizão MUD) por não se juntarem aos protestos.

"Quero dizer a Capriles e a Torrealba que política não é só preparar eleições [o país terá pleito parlamentar no segundo semestre], mas também mostrar a cara na rua e se reunir com os estudantes", afirmou Costa.

A marcha por pouco não degenerou em violência quando jornalistas pró-governo chegaram ao local e bateram boca com manifestantes.

Enquanto uns estudantes protestavam na rua, outros, num sinal de rechaço à marcha, se reuniam num anfiteatro da UCV para debater meios "democráticos" de fazer frente ao governo.

A fala foi liderada por Hasler Iglesias, ligado a Capriles e recém-eleito presidente do centro acadêmico da UCV.

Capriles defende a via eleitoral como opção incontornável para derrotar um governo amplamente visto como responsável pelo cenário de escassez, enormes filas e inflação alta.

Maduro, que acusa a oposição de "terrorismo", também promoveu uma manifestação nesta quinta.

Numa clara demonstração de força, a marcha ocorreu entre a praça Venezuela e o parque Carabobo, o mesmo trajeto que havia sido usado pelos estudantes opositores em 12 de fevereiro de 2014.

"Os protestos do ano passado só geraram destruição", disse Rosemary Calderon. "Eu apoio este governo, pois ele permite que uma pessoa humilde como eu também faça faculdade".


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