Folha de S. Paulo


Filho de brasileira é condenado a cinco anos de prisão após unir-se ao EI

Brian de Mulder, 21, filho da brasileira Ozana Rodrigues, foi condenado pela Justiça belga nesta quarta-feira (11) a cinco anos de prisão. Acredita-se que esse jovem, ausente de seu próprio julgamento, integre hoje as fileiras do Estado Islâmico na Síria.

Ele havia deixado sua casa, na Bélgica -onde nasceu-, em janeiro de 2013. A mãe culpa a comunidade muçulmana local, em especial a organização radical islâmica Sharia4Belgium, pela radicalização de seu filho.

Foram julgados também nesta quarta-feira diversos outros membros do grupo, incluindo o líder Fouad Belkacem. Eles receberam penas variadas -Belkacem deve ir à prisão por 12 anos.

Reprodução
Brian de Mulder, belga nascido de mãe brasileira, ao lado do líder terrorista Hicham Chaïb, na Síria
Brian de Mulder, belga nascido de mãe brasileira, ao lado do líder terrorista Hicham Chaïb, na Síria

À Folha Rodrigues afirma estar decepcionada com as sentenças. "Esse cara acabou com a vida de muita gente, 12 anos é pouco tempo de cadeia", diz sobre Belkacem.

Seu filho terá de, além da prisão, pagar uma multa de € 2.500 (R$ 7.925) ao Estado belga. À reportagem, um dia antes da sentença, Rodrigues havia dito que preferia "chorar na porta da cadeia" do que ter o filho na Síria e que concordava que, se tivesse cometido crimes, ele teria se der punido.

"Ele tem de ser castigado. Todo o mundo paga pelo que faz", diz. "Não coloquei filho covarde no mundo. Se ele tiver matado alguém, sei que ele vai se confessar."

Mas não há informações sobre o paradeiro do garoto, que é conhecido no Estado Islâmico como "Abu Qassem Brazili" (Abu Qassem Brasileiro, em árabe). Ele é uma figura de destaque, entre os estrangeiros na organização.

Rodrigues deve contestar a decisão do tribunal belga. Ela diz que irá pedir compensação pelo estrago causado em sua vida pelo Estado, que não teria impedido a radicalização de seu filho.

"A Polícia sabia que esses terroristas estavam atrás do meu Brian desde 2010 e não fizeram nada", diz. "Eu perdi meu apartamento, minhas roupas, tenho de pagar a conta do hospital psiquiátrico onde fiquei internada."

"Sou mãe desse menino. Olha o que eu já sofri. Me transformei em morta-viva."

Dirk Waem/AFP
Mãe de Brian de Mulder, Ozana Rodrigues disse que processará Bélgica por permitir que filho virrasse jihadista
Mãe de Mulder, Ozana Rodrigues disse que processará Bélgica por permitir que filho virrasse jihadista

EUROPEU

Mulder é um dos exemplos de um pesadelo europeu, já que o continente tem visto nos últimos anos centenas de seus cidadãos viajarem à Síria para unir-se a milícias radicais. Há receio entre autoridades quanto ao retorno deles a seus países com experiência de combate.

O jovem, como tantos outros membros do Estado Islâmico, teve criação católica e não tinha, até recentemente, nenhum vínculo com a causa dos militantes que lutam, na Síria, pela deposição do ditador Bashar al-Assad e pela criação de um Estado regido por uma rígida interpretação da lei islâmica.

Atlético, ele usava um crucifixo no pescoço, presente de sua mãe durante a infância, e ouvia as músicas de Roberto Carlos. Até que foi dispensado do time de futebol local pelo qual jogava.

Segundo Rodrigues, a mãe, ele seguiu a partir de então um caminho que foi da depressão à mesquita local, aonde foi levado por amigos marroquinos. Em pouco tempo, passou a se vestir de maneira diferente e a exigir mudança de comportamento em sua família.

De acordo com a rede britânica BBC, o garoto escreveu aos parentes que "não são mais a minha família" e que 'meus irmãos muçulmanos são minha família". 'Se eu voltar a contatá-los, terão de estar de joelhos pedindo perdão e se converter ao islã. Não vou voltar.'


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