Folha de S. Paulo


Grupo alemão anti-islã perde força após atrair a extrema direita

A calma foi restabelecida nas ruas de Dresden (Alemanha) na última segunda (2).

Pela primeira vez desde outubro o centro da cidade não foi tomado por milhares de manifestantes do Pegida, grupo que organiza protestos semanais contra a "islamização" da Europa.

Um racha interno causou a desintegração de sua cúpula, obrigando o movimento a cancelar a 14ª marcha noturna na cidade e levantando dúvidas sobre seu futuro.

Fundado em outubro em Dresden, o Pegida (sigla em alemão para "Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente") surpreendeu a comunidade internacional ao reunir multidões em suas manifestações semanais, que atraíam cada vez mais simpatizantes, principalmente da classe média não politizada.

Os problemas começaram quando os atos passaram a atrair a extrema direita.

"Radicais de direita sonham há anos com uma oportunidade como a apresentada pelo Pegida", disse à Folha "Julius", codinome de um dos fundadores da página do Facebook PEGIDA#watch, que concentra informações sobre protestos contra o grupo.

Essa aproximação com radicais, segundo especialistas, está no centro das dificuldades enfrentadas pelo Pegida.

"Na Alemanha, quando um grupo passa a ser associado a extremistas de direita, é questão de tempo para que seja enfraquecido", disse o cientista político Hajo Funke, da Freie Universität (Berlim).

No fim de janeiro, o fundador e presidente do Pegida, Lutz Bachmann, renunciou ao cargo após a imprensa alemã divulgar foto sua com bigode e penteado semelhantes aos de Adolf Hitler.

Dias depois, foi a vez de a porta-voz do movimento, Kathrin Oertel, anunciar sua demissão, com outros quatro integrantes do comitê central, deixando o grupo com metade da liderança original de 12 membros.

O motivo da saída, segundo especulações da imprensa, seria uma combinação de fatores que vão do envolvimento do Pegida com grupos neonazistas até o papel que Bachmann continuaria a desempenhar no movimento apesar de sua renúncia.

No início da semana, Oertel anunciou a criação de um novo grupo –o "Democracia Direita para a Europa"– e convocou a população de Dresden a participar de sua primeira manifestação, marcada para este domingo (8).

O Pegida, que rejeitou os pedidos de entrevista feitos pela reportagem, anunciou que retomará seus atos a partir desta segunda (9).

Segundo Funke, a atual crise seria "o começo do fim" do grupo. "A força do Pegida era um fenômeno localizado. Nas outras cidades alemãs onde fez protestos o grupo não conseguiu o mesmo apoio que teve em Dresden."

REJEIÇÃO POPULAR

Com um discurso contra os imigrantes, a imprensa e as políticas de imigração do governo alemão, o Pegida expandiu suas atividades para países Áustria e Reino Unido.

"As atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico e a guerra na Síria são alguns dos fatores que contribuíram para o fortalecimento do grupo", explicou o especialista em extremismo Johannes Baldauf, da Fundação Amadeu Antonio.

Cerca de 4 milhões de muçulmanos vivem na Alemanha, a grande maioria em Berlim e em cidades da antiga Alemanha Ocidental.

A pequena quantidade de muçulmanos no leste do país contribuiu para o crescimento do Pegida. "O sentimento anti-islã está ligado ao fato de que muitas pessoas no país não têm contato com muçulmanos", disse Detlef Pollack, da Universidade de Münster.


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