Folha de S. Paulo


Israel deve receber recorde de franceses

No horizonte mediterrâneo israelense, vislumbra-se um novo recorde migratório: o governo prepara-se para a chegada de mais de 10 mil judeus franceses ao longo de 2015. Esse número superará outra marca histórica, a de 2014, quando ingressaram no país 7 mil novos residentes da França, frente a 3,4 mil em 2013. Eles representaram o maior grupo entre os 26,5 mil imigrantes que desembarcaram no país no ano passado.

Essa é uma clara reação à onda de antissemitismo no país. Somente em 2014 foram relatados aproximadamente mil eventos, que incluíram ataques a judeus, sinagogas e instituições judaicas.

O ano de 2015 começou com o episódio mais grave de todos: em 9 de janeiro, terroristas invadiram um supermercado judaico em Paris, matando quatro pessoas. O ataque ocorreu logo após a invasão do jornal satírico "Charlie Hebdo", que resultou na morte de 12.

Em pesquisa do Ministério da Diáspora de Israel, a França foi considerada o "país mais perigoso para os judeus da atualidade". "Os judeus sentem que não podem mais viver na França", afirmou à Folha Avi Zana, diretor da AMI, entidade privada baseada em Israel que dá suporte à imigração francesa ao país.

O sentimento de insegurança transpareceu também na pesquisa realizada no ano passado pela Liga de Antidifamação, que relatou que 26% dos residentes judeus franceses se sentem "profundamente afetados" pela escalada da violência.

"Os atentados não acontecem apenas em Paris, e o de 9 de janeiro provou que o terror chegou ao coração da França. Não é uma escalada repentina: nos últimos dez anos, dez judeus foram assassinados simplesmente por serem judeus", disse Zana.

Yossi Ben-Avraham, 42, chegou a Israel em julho de 2012 com a esposa e três filhos. Vivem em Raanana, no centro do país. "O antissemitismo e a crise econômica inviabilizaram a vida do judeu francês", afirmou.

Ele é um exemplo das pessoas que, em Israel, ganharam o apelido de "imigrante-Boeing": manteve sua empresa em Paris e viaja para lá em semanas alternadas.

DEMOGRAFIA

Frente à situação de risco, Israel tem incentivado a vinda desses imigrantes. "Enviamos representantes em um esforço de divulgação do país, entre eles prefeitos de cidades como Natânia, Tel Aviv e Jerusalém, os destinos mais procurados pelos franceses, e realizamos campanhas de marketing em rádios locais", disse à Folha Hagai Man, superintendente do Ministério da Imigração e Absorção de Israel. O país tem sido a primeira opção dos judeus franceses, seguido pelos EUA e o Canadá.

Esse movimento é importante para Israel, uma vez que o país luta permanentemente para promover o aumento de sua população judaica, como forma de reduzir o aumento porcentual dos árabes na população total, puxado por uma taxa de fertilidade mais alta -hoje, os árabes são cerca de 20% dos que vivem em Israel.

"Pelo alto nível social e profissional marcante na sociedade judaica francesa, muitas cidades os disputam. Cada uma tem autonomia para determinar sua oferta de benefícios", explica Elad Sonn, porta-voz do Ministério de Imigração e Absorção.

O processo de admissão do novo imigrante é conduzido pela Agência Judaica e leva de 2 meses a 1 ano. "Esse prazo depende do próprio imigrante, da rapidez com que apresenta os documentos necessários e sua prontidão para realizar a mudança", explica Sonn.

Natânia, cidade costeira no centro do país, foi a escolha de 30% dos que chegaram ao país em 2014. Uma boa parte dos 150 mil franceses que vivem em Israel não domina o hebraico -em Natânia, isso não é necessário.

A cidade passou a ser conhecida como a "Riviera Francesa" de Israel. As lojas trazem placas escritas somente em francês, e os restaurantes exibem cardápios nessa língua, que é falada em muitos departamentos públicos e serviços de saúde.

O parisiense de origem tunisiana Victor Srour imigrou há um ano e decidiu estabelecer-se em Natânia, onde já contava com um círculo social -diversos de seus amigos emigraram para lá nos últimos dez anos, depois de se aposentarem. "A França acabou para nós. O judeu se sente estrangeiro em qualquer lugar do mundo -menos aqui. Essa é nossa casa."


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