Folha de S. Paulo


Investigação só encontra material genético de Nisman no local da morte

No banheiro onde o promotor Alberto Nisman foi encontrado morto não havia material genético de outra pessoa. A informação veio de um comunicado da investigadora do caso, Viviana Fein. "Na camiseta, shorts, pistola, carregador, cartuchos e cápsulas se verificou o mesmo perfil genético, que coincide com o da mostra tirada do falecido", informa o comunicado.

Nisman morreu com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento em um edifício Puerto Madero, quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner de encobrir os responsáveis por um antigo atentado terrorista a um centro israelita em Buenos Aires.

Marcos Brindicci - 29.mai.2013/Reuters
Promotor argentino Alberto Nisman, que foi encontrado morto em 18 de janeiro
Promotor argentino Alberto Nisman, que foi encontrado morto em 18 de janeiro

No mesmo comunicado, Fein revelou que câmeras do prédio estavam com defeito e que não há gravações de imagens do elevador de serviços e das escadas.

A investigação foi tema de uma polêmica entre o governo argentino e um senador norte-americano. O republicano da Florida Marco Rubio pediu ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que fizesse pressão por uma investigação independente, com apoio internacional.

Rubio enviou uma carta a Kerry na qual se dizia "profundamente preocupado com a inabilidade do governo da Argentina de conduzir uma investigação justa e imparcial".

O chefe de gabinete de Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, reagiu dizendo que a iniciativa de Rubio é imperialista. "Não aceitamos intromissão de nenhum país", afirmou. Ele também disse que o senador dos EUA desconhece as regras das Nações Unidas e o princípio de autodeterminação dos povos.

Em um ato na Casa Rosada com aliados e militantes, Cristina também disse que pode falar o que quiser sobre o caso, pois tem liberdade de expressão.

Trata-se de uma resposta a um dirigente de uma associação de juízes, que afirmou que as hipóteses que a presidente apresenta sobre a morte podem interferir na investigação. "Desde o presidente da Suprema Corte até o último dos juízes e promotores podem falar. Como eu, que sou a presidente, não posso? Ninguém de outro poder pode dizer para a presidente calar a boca."

Ela também fez uma referência a Diego Lagomarsino, o técnico de informática que emprestou a arma usada na morte de Nisman. Apesar de não citá-lo, Cristina fez referência a um tuíte publicado por ele em 2013, no qual xingou violentamente a presidente.

Em outra referência ao caso do promotor morto, pediu para que "não tragam conflitos" de outros países para a Argentina.

O ato aconteceu em uma Casa Rosada lotada de militantes. Apoiadores do governo encheram dois pátios do prédio e também ocuparam uma parte do salão onde Cristina fez sua conferência.

Uma das pessoas era a aposentada Célia Gonzales, 62, que havia ido ao ato com vizinhas da Villa 21, uma favela de Buenos Aires. "Vão usar o caso de Nisman contra Cristina, mas ao povo isso não interessa. Nós sabemos que os grandes meios estão fazendo um atentado contra a democracia", afirmou.

A militante Laura Consentino, 31, do grupo Kolina, afirmou que os apoiadores apareceram em grande quantidade porque "o nível de agressão que estão dirigindo à Cristina é altíssimo. Todos que a seguem vão fazer o que puder para apoiá-la".


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