Folha de S. Paulo


Promotor argentino desconfiava de guardas, diz auxiliar

Na véspera de sua morte, o promotor Alberto Nisman -cujo corpo foi encontrado em seu apartamento quatro dias depois de denunciar a presidente Cristina Kirchner- pediu uma pistola emprestada para "levar no porta-luvas, caso apareça um louquinho com um porrete me chamando de traidor".

Quem relatou isso, em entrevista coletiva nesta quarta (28), foi o técnico em informática Diego Lagomarsino, o primeiro acusado formalmente no caso por ter emprestado a arma encontrada ao lado do corpo.

Lagomarsino descreveu o último dia que viu seu ex-chefe. Segundo ele, o promotor o chamou a seu apartamento e pediu a arma emprestada. Teria dito que já não confiava nem nos seus seguranças e que suas filhas não se aproximavam dele por medo.

Marcos Brindicci - 29.mai.2013/Reuters
O promotor argentino Alberto Nisman, que foi encontrado morto no dia 18
O promotor argentino Alberto Nisman, que foi encontrado morto no dia 18

Logo depois acrescentou que queria a pistola emprestada para levar dentro do carro, com medo de que alguém o atacasse na rua.

O técnico em informática então dirigiu até sua casa, pegou a pistola e voltou ao edifício. Em seguida, ensinou o promotor a usar a arma calibre .22. Pouco depois, foi embora. No dia seguinte, mandou mensagem perguntando se o chefe estava mais tranquilo, mas notou, pelo sinal do aplicativo WhatsApp, que ele não chegou a ler o texto.

Lagomarsino deve ser acusado apenas pelo empréstimo da arma, afirmou a encarregada da investigação, a promotora Viviana Fein.

"Não há elemento nenhum que possa implicar a intervenção dele em ato doloso mais grave", disse.

Cristina já sugeriu duas vezes que o técnico de informática pode ter algum envolvimento com o caso, que ela afirma ser um assassinato.

Em uma de suas cartas abertas, escreveu que era "estranho" alguém ter aparecido morto por uma arma de uma outra pessoa, a mesma que viu a vítima viva pela última vez, no mesmo lugar do acontecimento, e que fosse alguém que trabalhasse no caso da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).

Em sua denúncia, Nisman acusou Cristina, o chanceler Héctor Timerman e colaboradores da Casa Rosada de encobrir suspeitos iranianos no atentado à Amia, em 1994, que deixou 85 mortos.

O advogado de Lagomarsino afirmou que deverá pedir para que Cristina seja testemunha e negou uma informação que a presidente passou em um discurso sobre a data em que o assessor de Nisman pediu para renovar o passaporte.

Segundo ele, seu cliente não escolheu a data, que foi imposta pelo órgão emissor do documento. Cristina dissera que Lagomarsino tinha pedido para renovar o passaporte em 14 de janeiro, mesmo dia em que Nisman protocolara a denúncia.

Não foi a única declaração de Cristina refutada na quarta. A promotora Fein negou que Nisman tenha antecipado o fim das férias na Europa para apresentar a denúncia mais rapidamente, como afirmara a presidente.
O velório do promotor, restrito a parentes e amigos próximos, ocorreu na noite de quarta (28).

Na manhã desta quinta (29), estava programado o enterro.


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