Folha de S. Paulo


Na Celac, Dilma diz que embargo dos EUA contra Cuba deve ser superado

Em consonância com o discurso de outros líderes da América Latina e do Caribe, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quarta-feira (28) que o embargo dos EUA a Cuba, uma "medida coercitiva sem amparo do Direito Internacional", deve ser "superado".

Ao discursar na cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), Dilma elogiou a "coragem" e o "sentido de responsabilidade histórica" do presidente americano, Barack Obama, e do ditador cubano, Raúl Castro, ao fazerem avançar as conversas para normalizar as relações bilaterais. No entanto, lembrou que o embargo segue em vigor.

Rodrigo Arangua/AFP
Presidente Dilma (à dir.) possa com outros líderes na Celac para foto oficial do evento
Presidente Dilma (à dir.) possa com outros líderes na Celac para foto oficial do evento

"Essa medida coercitiva, sem amparo do Direito Internacional, que afeta o bem-estar do povo cubano e prejudica o desenvolvimento do país deve também ser superada", declarou.

Dilma disse "não ter dúvidas" de que a Celac funcionou como "catalisador" do processo que levou ao anúncio do acordo entre EUA e Cuba, um "fato de transcendência histórica".

Para a presidente, Castro e Obama "merecem reconhecimento pela decisão benéfica para cubanos e norte-americanos, mas sobretudo para todos os cidadãos do continente". "Começa a se retirar da cena latino-americana e caribenha o último resquício de Guerra Fria em nossa região", afirmou.

Dilma defendeu novamente o financiamento de US$ 800 milhões para as obras do Porto de Mariel, em Cuba, um projeto da Odebrecht. A decisão foi amplamente criticada pela oposição brasileira.

"O Brasil, ao financiar as obras do Porto de Mariel, (...) atuou em prol de uma integração abrangente", disse.

"RESULTADOS EXTRAORDINÁRIOS"

Aproveitando o tema principal da cúpula na Costa Rica –o combate à pobreza–, Dilma enumerou "resultados extraordinários" do Brasil no combate à exclusão social e citou números do programa Minha Casa, Minha Vida.

A presidente destacou o fato de o país ter saído do mapa da fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) em 2014. "Criamos um piso de renda, com o Bolsa-Família, abaixo do qual nenhum brasileiro deve estar", disse, destacando que 22 milhões de brasileiros superaram a extrema pobreza nos últimos quatro anos.

Dados divulgados pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) nesta semana, contudo, mostram que houve, entre 2012 e 2013, uma elevação de 5,4% para 5,9% na quantidade de brasileiros que vivem em situação de extrema pobreza.

CRISE

Ao exaltar a redução da fome na América Latina e no Caribe desde 1990, Dilma disse que a situação da região "contrasta com uma conjuntura econômica mundial muito complexa".

Ela afirmou que a queda no crescimento do comércio mundial se explica por fatores como "a lenta recuperação da economia americana" e a "estagnação" na Europa e no Japão. "Tudo isso afeta a nossa região", disse.

Dilma criticou os subsídios que "distorcem o comércio internacional e certas reações [que] provocam escaladas tarifárias dificultando as exportações dos países em desenvolvimento".

"Diante desse quadro, torna-se urgente nossa cooperação, priorizando o comércio intrarregional e, ao mesmo tempo, estimulando o desenvolvimento e a integração das nossas cadeias produtivas", disse.

FÓRUM DE EMPRESÁRIOS

No discurso, a presidente propôs ainda a criação de um "Fórum de Empresários da Celac", que teria a participação de governos e das empresas.

"Seu objetivo será desenvolver o comércio, aproveitando as oportunidades diversificadas que nossas economias oferecem e estimular, quando possível, a integração produtiva no espaço Celac, promovendo nossas relações com o resto do mundo."

A presidente Dilma manteve três reuniões bilaterais durante a tarde, com os presidentes Juan Manuel Santos (Colômbia), Nicolás Maduro (Venezuela) e Juan Carlos Varela (Panamá). Ela também participou de um encontro ampliado com Maduro e Santos. O Planalto não havia divulgado o tema das conversas até o início da madrugada desta quinta-feira (29).


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