Folha de S. Paulo


Theofanis Kindinis, 48

Minha História: brasileiro na Grécia diz que 'crise do Sarney foi pior' que a grega

RESUMO
Filho de gregos, Theofanis Kindinis, 48, é brasileiro e se mudou para a Grécia em 1988. Trabalha como taxista há dez anos. Na eleição deste domingo (25), votará no partido governista, o Nova Democracia, por achar que o país deve manter as medidas de austeridade, ao contrário do que defende a coalizão esquerdista Syriza, favorita no pleito.

Leandro Colon/Folhapress
Theofanis Kindinis, 48, posa ao lado de seu táxi em Atenas, capital da Grécia
Theofanis Kindinis, 48, posa ao lado de seu táxi em Atenas, capital da Grécia

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Votarei no partido Nova Democracia (centro-direita), do primeiro-ministro Antonis Samaras, nas eleições deste domingo (25). Não acho justo que o partido de esquerda Syriza, favorito, vença e assuma o governo para mudar o que tem sido feito desde 2010.

É preciso que as medidas de austeridade fiscal continuem. A ajuda da Europa é importante para nós.

Vim morar aqui em Atenas há 27 anos. Minha ex-mulher, brasileira, e meus dois filhos, um deles nascido no Brasil, também vivem na Grécia.

Nasci em Brasília em 1966. Meu pai era grego e foi viver como imigrante no Brasil nos anos 50. Com a nova capital, decidiu se aventurar e abrir um restaurante.

Nos anos 70, fomos para São Paulo, onde meu pai montou uma indústria de roupa no Bom Retiro e também no Brás, na rua Maria Marcolina. Começamos a passar dificuldades durante o governo Sarney (1985-1990).

Com a crise econômica e a inflação galopante, o negócio do meu pai começou a desmoronar. Posso garantir: a crise do governo Sarney foi bem pior que esta da Grécia.

Meu pai tinha que negociar em cima da inflação, que não parava de subir. Não aguentou, quebrou e abriu um restaurante de comida grega por quilo. Sem emprego, vim para a Grécia em 1988. Fiz de tudo, trabalhei até na limpeza do aeroporto.

Em 2000, um ano depois de meu pai morrer, voltei ao Brasil para buscar trabalho, mas não deu muito certo e retornei para Atenas. Há dez anos trabalho como taxista. A crise de 2010 abalou minhas finanças, obviamente.

Como é algo considerado supérfluo, o táxi é uma das primeiras coisas que as pessoas param de usar. A maioria começou a andar mais de transporte público nos últimos quatro anos.

Hoje pago € 900 (R$ 2.600) de aluguel do táxi e consigo ganhar, em média, € 600 (R$ 1.700) por mês limpos. Antes da crise dava para levar quase o dobro. Com essa situação, mudei de casa, saindo de um aluguel de € 400 (R$ 1.160) para € 200 (R$ 580).

É possível sentir uma melhora na nossa economia desde o ano passado. O turismo aumentou, e acho que o pior já passou.

O Samaras assumiu em 2012 e, como o Parlamento não conseguiu eleger um novo presidente em dezembro, novas eleições foram convocadas. Achei injusto; foi de propósito que fizeram isso para ter nova eleição.

O Samaras merecia concluir o mandato de quatro anos. Mas não tenho medo do partido Syriza porque acho que, se não cumprir a promessa de melhorar a vida dos gregos, não ficará muito tempo no poder.


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