Folha de S. Paulo


Questionado por jornalistas, premiê turco passa por saia justa

Por mais que Ahmet Davutoglu, o primeiro-ministro turco, diga que seu país é uma rara "história de sucesso" democrática no mundo muçulmano, não escapou de uma saia justa durante sua conversa desta quinta-feira, 22, com os jornalistas do International Media Council.

Acontece que, antes da conversa, os jornalistas haviam tido uma discussão sobre liberdade de expressão, durante a qual Suna Vidinli queixou-se de ter sido demitida da NTV turca, supostamente por ter postado tuítes criticando a prisão, em dezembro, de um grupo de 24 jornalistas, todos de oposição ao governo.

Como Davutoglu usou sua conversa para defender, ardorosamente, a performance da Turquia em matéria de liberdade de imprensa, um dos jornalistas apontou para Vidinli, na primeira fila, e cobrou uma posição do premiê.

Davutoglu foi rápido: pediu à jornalista que lhe apresentasse evidências de que houvera ordem de alguém do governo para a sua demissão que ele, imediatamente, demitiria quem a tivesse dado.

Vidinli não quis fazer de seu caso pessoal uma batalha contra o governo, com o que o premiê encerrou o assunto com uma advertência: ou ela apresenta provas das circunstâncias de sua demissão ou para de fornecer argumentos para uma suposta campanha contra a Turquia.

Que o governo acredita em campanha ficou demonstrado pelo fato de que o primeiro-ministro levou para a conversa uma nota em que procura demonstrar que não há jornalistas presos na Turquia por suas atividades.

Os que estão presos têm o registro de jornalista, mas, segundo a nota, cumprem pena por crimes como assassinato, assalto a banco ou sequestro. Emendou: "Se vocês me apresentarem um caso de jornalista preso por sua atividade, liberto na hora".

COMBATE AO EI

Toda a conversa girou em torno de dois eixos: "a única história de sucesso [como democracia] no mundo muçulmano" e o combate ao EI (Estado Islâmico).

No primeiro capítulo, Davutoglu lembrou que a Turquia teve 11 eleições nos últimos 12 anos, três gerais e duas presidenciais (o regime é parlamentarista).

"Todas foram indiscutivelmente livres e justas", decretou. De fato, a comunidade internacional não tem feito restrições aos pleitos turcos dos últimos anos.

Como seu partido ganha todas (está há 12 anos no poder), o premiê dá um número para justificar os triunfos: a renda per capita se multiplicou por quatro no período.

Davutoglu, sempre falando de democracia, critica o retrocesso em países muçulmanos, citando especificamente o Egito.

"Se os generais [como Abdel Fattah al-Sisi, o ditador egípcio] estão voltando ao poder, é difícil ter esperança na democracia", diz.

Quanto ao EI, o premiê insiste na posição que a Turquia manteve praticamente desde o início da repressão na Síria aos protestos populares: "Bashar al-Assad [o ditador sírio] é tão terrorista quanto Baghdadi", em alusão a Abu Bakr al-Baghdadi, o chefe do EI, autoproclamado califa.

Para Davutoglu, não adianta combater apenas o EI. Ele acredita que, se o grupo islâmico for derrotado, mas Assad permanecer no poder, proliferarão outros grupos terroristas.


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