Folha de S. Paulo


Edição do 'Charlie Hebdo' se esgota rapidamente em bancas de Paris

Bancas de várias regiões de Paris venderam em poucos minutos nesta quarta-feira (14) todos os exemplares disponíveis da histórica edição do jornal satírico "Charlie Hebdo".

É a primeira edição a circular uma semana após o ataque terrorista na sua sede que deixou 12 mortos, sendo oito funcionários (cinco deles cartunistas, incluindo o diretor Stéphane Charnonnier).

Normalmente, o Charlie Hebdo imprime 60.000 cópias, mas o total aumentou drasticamente nesta semana —de 1 milhão para 3 milhões e, agora, para 5 milhões nos próximos dias.

Em três bancas na área da Praça da Bastilha, as filas começaram por volta de 6h20 (3h20, horário de Brasília), ainda escuro e debaixo de um frio de 5º. Às 6h40, não havia mais nenhum exemplar disponível. Cada banca dessa região recebeu, em média, 60 jornais.

Uma delas limitou a venda a um exemplar por pessoa, mas não adiantou muito: o estoque acabou em dez minutos. Outras duas foram mais generosas e venderam no máximo dois jornais para cada cliente.

"Só consegui porque cheguei às 6h aqui, acordei cedo para isso. E vou rodar em mais bancas para tentar outros exemplares", comemorou o policial parisiense Miguel Richard, 26.

Os que chegaram tarde demais foram avisados que uma nova remessa do "Charlie Hebdo" deve chegar entre quinta (15) e sexta-feira (16).

O mesmo ocorreu na região da avenida Champs-Elysées e na estação Gare du Nord, no centro de Paris, onde algumas bancas receberam mais de cem edições para vender.

Líderes islâmicos têm criticado a edição. A capa do jornal, que tem oito páginas, mostra uma caricatura do profeta Maomé chorando e segurando um cartaz em que se lê "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie), frase que que virou símbolo depois do atentado. Acima do desenho do profeta, está escrito "Tudo está perdoado".

A charge é considerada provocativa justamente porque os ataques, segundo os radicais islâmicos, ocorreram pelo uso da imagem do profeta.

"Essa edição vai causar nova onda de ódio na França e na sociedade ocidental e não ajuda no diálogo entre as civilizações", disse Shawqi Allam, mais alta autoridade religiosa do Egito. "É um insulto", disse o líder radical islâmico Anjem Choudray, nascido no Reino Unido e conhecido por estimular jihadistas.

O cartunista Renald Luzier (Luz) chorou nesta terça (13) na apresentação da nova edição, editada nas dependências do jornal francês "Libération".

"É antes de tudo um homem que chora", disse Luz ao explicar o desenho de Maomé que ilustra a capa.

A imagem do profeta do islamismo fica restrita à primeira página. Outras páginas fazem uma sátira com jihadistas. Um editorial faz homenagem aos mortos no ataque de 7 de janeiro.

A edição apresenta também charges e textos publicados anteriormente pelos cartunistas e jornalistas que morreram. O jornal deve ser traduzido em cinco línguas e distribuído em mais de 20 países.


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