Argentina e Brasil estão em extremos opostos sobre como lidar com crimes de suas ditaduras, afirma a socióloga americana Leigh Payne, do centro de estudos sobre América Latina da Universidade de Oxford (Reino Unido).
No caso brasileiro, ela aponta menor cobrança por punição da sociedade civil e mais força de grupos que defendem a manutenção da anistia. Leia abaixo trechos da entrevista.
*
Folha - A cumplicidade de empresas e seus executivos nos crimes da ditadura era diferente no Brasil e na Argentina?
Leigh Payne - No Brasil, muitos empresários se consideravam "guerreiros silenciosos" do regime e se gabavam disso. Não vi isso na Argentina, em que o envolvimento era mais clandestino.
Por que a sra. considera que Argentina e Brasil estão em extremos opostos em relação à maneira como lidam com crimes da ditadura?
O Brasil está na ponta da impunidade porque ninguém desafia a Lei da Anistia. Na outra ponta, a Argentina derrubou a lei, processou centenas de militares e começa casos contra empresários.
O que levou a essa distância?
O primeiro fator para que os processos avancem é a demanda da sociedade civil. Não que ela não exista no Brasil, mas é pequena. Agora, com as comissões, talvez fique mais visível.
Depois, é preciso haver protagonismo dentro do sistema legal: promotores e juízes que queiram progredir com os casos.
O terceiro fator é pressão internacional. E existem ainda, no Brasil, grupos fortes que defendem a anistia e vetam qualquer mudança ou processo.