Folha de S. Paulo


Brasileiro que tentou se juntar a extremistas era discreto em mesquita

Quando a reportagem pergunta para fiéis na porta da mesquita Badr, em Terrassa (Espanha), sobre um brasileiro que costumava rezar ali, alguém lhe interrompe e diz: "Mas Hakim está preso!"

Hakim, 18, é o brasileiro detido na Bulgária na semana passada a caminho da Síria, onde se juntaria aos combatentes da milícia radical EI (Estado Islâmico).

Alegando sigilo, autoridades búlgaras informaram só suas iniciais, K.L.R.G. A Folha apurou que o primeiro nome é Kaíque, e um dos sobrenomes, Ribeiro. Procurados, os órgãos responsáveis em Madri afirmaram não ter autorização para divulgar o nome completo do brasileiro.

Sua irmã, encontrada pela reportagem em Terrassa e que não quis se identificar, confirmou a informação, mas preferiu não falar sobre o assunto até que ele seja extraditado a Madri. "Só tenho a dizer que ele é um bom menino, estudioso, e nunca teve problema aqui ou no Brasil."

O jovem, natural de Formosa (GO), atende pelo nome árabe Hakim desde sua conversão ao islã, quando ele já vivia na Espanha.

DESCONFIANÇA

No fim da oração desta segunda (22), membros da comunidade muçulmana local encaminhavam a reportagem ora ao escritório da mesquita, ora a fiéis que pudessem conhecer Hakim.

Mas um homem jovem vestido com roupas tradicionais, com a cabeça coberta por um lenço, dava em árabe instruções para que eles não falassem sobre o caso.

"Hakim vinha sempre com os amigos. Eram um grupo pequeno e não conversavam sobre essas coisas com os outros", disse um fiel, sem revelar o nome. Outros diziam nunca tê-lo visto no recinto.

Há nítido temor de que a história do extremista brasileiro leve a uma associação da mesquita ao EI.

A menção ao brasileiro levava, na maioria dos casos, à frase "o brasileiro alto!". Parecia haver consenso de que tivesse cabelo claro e não falasse árabe fluente.

Informações oficiais apontam que Hakim esteja detido em Haskovo (Bulgária), à espera da extradição pedida por um juiz espanhol. Ele já teria sido visitado por funcionários do consulado brasileiro.

A polícia da Catalunha já entrou no apartamento do amigo marroquino de Hakim, também detido na Bulgária.

Apesar de as informações preliminares terem registrado que Hakim vivia na pequena cidade próxima de Monistrol de Montserrat, a reportagem apurou com a família que ele morava em Terrassa.

OUTRO CASO

O caso lembra o de Brian de Mulder, filho de uma brasileira que se converteu ao islã na Bélgica, aderiu ao Estado Islâmico e passou a ser chamado de Abu Qassem Brazili entre os militantes.

Sem paradeiro conhecido, Brian é julgado por um tribunal belga por ter vínculo com rede terrorista.


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