Folha de S. Paulo


Exilados em Miami protestam contra reaproximação entre EUA e Cuba

A comunidade cubana anticastrista em Miami, na Flórida, se reuniu neste sábado (20) para protestar contra a retomada das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.

Cerca de 200 pessoas, em sua maioria acima dos 60 anos, estiveram no parque José Martí com bandeiras de Cuba e cartazes que chamavam o presidente Barack Obama de "traidor". Também era possível ouvir gritos de "Obama é comunista" e "Justiça!"

"É uma covardia desse presidente fazer isso, ele traiu os princípios da oposição cubana e agora é um cúmplice da ditadura", disse Hernand Reyes, 68.

Chamado de "Concentração pela Democracia em Cuba", o protesto "rechaça todas as concessões feitas pela administração de Barack Obama ao regime totalitário de Raúl Castro", dizia a convocação para o ato.

Também foram lembrados os mortos na queda de um avião em 1996, derrubado pelo regime –os responsáveis por passar as informações sobre a aeronave seriam os espiões soltos pelo governo no acordo.

A Flórida concentra 70% dos cerca de 2 milhões de imigrantes cubanos nos Estados Unidos. A cidade de Miami é conhecida por reunir desde os anos 1960 a maior parte dos exilados políticos do regime
comunista e, por isso, é o centro da comunidade anticastrista no país.

Com o passar dos anos, no entanto, o movimento perdeu força com a chegada de imigrantes mais recentes, que vieram aos EUA após os anos 1990 por razões econômicas. Neste grupo, as negociações entre os dois países e o fim do embargo a Cuba são aprovados pela maioria.

"A juventude não tem dignidade, nem vergonha", disse Reyes. "Hoje é um dia de muita tristeza, mas também de muito orgulho, porque a luta está viva!"

"Vamos fazer o que pudermos para mudar o que ainda está nas nossas mãos", afirmou Pepe Mercontini, 78, em referência à discussão, no Congresso, sobre o fim do embargo econômico a Cuba. "Levamos 50 anos lutando. Não vamos parar."

"Eles não vão conseguir acabar com o embargo no Congresso, temos muito apoio dos congressistas", disse Emilio Vazquez, 74. "Os cubanos recebem golpes do mundo inteiro. Estamos sozinhos, continuaremos sozinhos e venceremos sozinhos."

O ato contou com a presença de políticos com ascendência cubana, como o ex-deputado federal Lincoln Diaz-Balart e a senadora estadual Anitere Flores.

"Temos que ficar mais unidos do que nunca para lutar contra esse acordo", disse Flores em discurso no palco montado para o evento.

"Obama é infame. E a pior infâmia do que fez é dizer que isso vai ajudar o povo de Cuba", afirmou Diaz-Balart, arrancando reações acaloradas dos participantes.


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