Folha de S. Paulo


Para especialista, Dilma não era opção para mediar acordo

A presidente Dilma Rousseff não era uma opção viável para mediar a reaproximação entre Cuba e EUA. O motivo? Ser vista por Washington como "muito próxima" dos membros da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), como Venezuela e a Cuba de Raúl Castro.

A opinião é de Brian Latell, que foi, por anos, o principal analista de Cuba da CIA (inteligência americana) e escreveu "Cuba sem Fidel", uma completa biografia não-autorizada de Raúl Castro, em 2005.

Leia trechos de sua entrevista à Folha.

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Folha - O anúncio de um acordo entre EUA e Cuba foi, de fato, uma surpresa?

Brian Latell - Acredito que poucas pessoas não se surpreenderam com o anúncio da reaproximação. O que foi alcançado entre os dois países foi muito abrangente, e acho que eram poucos os que esperavam tantas mudanças para agora.

Quanto dessa conquista pode ser creditada a Obama e Raúl Castro e quanto à atual conjuntura econômica na ilha?

O presidente Obama deu sinais de que queria melhorar as relações com Cuba desde o início de seu primeiro mandato, em 2009. Ele tomou uma série de medidas para isso, como facilitar viagens e envio de remessas de dinheiro. E ele esperava que houvesse alguma reciprocidade.

Raúl também é pragmático e mais moderado que Fidel, e acredito que ele também queria melhorar as relações, mas, de fato, havia a pressão sobre o regime, já que a economia não está indo muito bem e eles estão perdendo os subsídios da Venezuela.

Mas o processo foi mais longo do que os 18 meses de conversas entre os dois líderes.

Sim, outros presidentes americanos já haviam tentado uma reaproximação, mas Fidel não estava interessado. A diferença fundamental foi a chegada de Raúl.

Uma boa pergunta é: onde está Fidel agora? Talvez ele se pronuncie em breve. Ou talvez esteja muito doente pra isso.

Por que os dois lados não escolheram um mediador da região, como o Brasil, no processo?

Eu não acho que Dilma teria sido uma boa opção. Em Washington, ela é vista como particularmente próxima dos países da Alba, como Venezuela e Cuba, e não sei se ela seria uma boa negociadora para ambos os países. O papa Francisco foi.

Qual deve ser o próximo passo dessa reaproximação?

Os próximos passos serão bem mais difíceis para Obama, porque a oposição estará muito mais forte no Congresso e muitos já demonstraram não apoiar o que o governo fez. Alguns já disseram, inclusive, que nunca aprovarão um embaixador para Havana.


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