Folha de S. Paulo


Bairro de Miami que concentra cubanos é cético sobre reaproximação

Ao andar por Little Havana, o bairro que concentra o comércio cubano em Miami, na Flórida, é possível ouvir opiniões bastante distintas a respeito do acordo anunciado por EUA e Cuba na quarta-feira (17).

Há, no entanto, um consenso entre as diferentes vozes da comunidade: o ceticismo em relação aos efeitos reais da retomada das relações entre os dois países.

"Eu não entendo por que as pessoas querem falar disso agora, nada aconteceu ainda. E vai levar anos para vermos algo de concreto", disse o dono de uma tabacaria.

"Só vou discutir isso em janeiro. O [presidente]Obama não fez nada, só jogou o problema para o Congresso. E isso não vai passar, agora que o Senado e a Câmara terão maioria republicana", afirmou um senhor sentado em um banco no Domino Club.

O local está cheio de imigrantes cubanos que chegaram ao país na década de 1960 e passam as tardes jogando cartas. A maioria devolve um olhar de desprezo quando surge o assunto.

"Isso é só um show. É tudo política", disse Jose Montagne, há 26 anos no país, enquanto fumava um charuto em uma tabacaria da região.

CONGRESSISTAS

Os representantes do Estado da Flórida no Congresso que têm ascendência cubana corroboram a tese da população de que a derrubada do embargo econômico não passará pelo Legislativo norte-americano.

Em entrevista nesta quinta (18) em Miami, o senador Marco Rubio e os deputados Ileana Ros-Lehtinen e Mario Diaz-Balart, todos republicanos, rechaçaram as medidas adotadas por Obama.

"Nós vamos analisar todas as nossas opções, como Congresso, para fazer Obama pagar pelas decisões que tomou agora", disse Rubio, um potencial candidato à Presidência em 2016.

"É um dia muito triste para nós. Um dia em que o presidente dos EUA decidiu dar a uma ditadura tudo que ela vinha pedindo há muito tempo", disse Diaz-Balart.

Para Jorge Duany, diretor do Instituto de Pesquisa Cubana da Universidade Internacional da Flórida, há, sim, mudanças.

"O embargo só pode ser retirado pelo Congresso. Considerando que o Congresso agora é controlado pelos republicanos e a maior parte dos republicanos é a favor do embargo, não me parece que vá ser retirado nos próximos anos", avaliou Duany.

"Mas o que Obama fez com as ações executivas foi mudar as regras do jogo nas relações Cuba-EUA", acrescentou.


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