Folha de S. Paulo


Acordo solta três agentes de Cuba e dois americanos

Com o acordo que retoma relações entre Cuba e Estados Unidos, ao todo, cinco homens ganharam a liberdade nesta quarta (17).

Do lado cubano, ficaram livres três espiões, presos desde 1998 nos EUA. Já do lado americano, voltaram para casa Alan Gross, 65, detido há cinco anos, e um agente do serviço de inteligência, preso há 20 anos na ilha.

Este último, principal alvo de interesse na troca, é tratado como "o prisioneiro misterioso", já que seu nome não foi divulgado. Só o gênero, masculino, e a nacionalidade, cubana, foram revelados.

O presidente americano, Barack Obama, o descreve como "um dos agentes mais importantes que os EUA já tiveram em Cuba". "Proveu a América com informação que nos levou a prender a rede de agentes cubanos que incluía os homens transferidos a Cuba hoje, bem como outros espiões nos EUA", disse.

AFP
Raúl Castro conversa com espiões cubanos que estavam presos nos EUA e foram soltos
Raúl Castro conversa em Havana com espiões cubanos que estavam presos nos EUA e foram soltos

GENTILEZA

Alan Gross, o outro homem a voltar aos EUA, por sua vez, fez discurso público após a libertação. Em Washington, falou ao lado da mulher, Judy.

"A liberdade não é grátis", disse ele, como a maior lição aprendida no período de cinco anos de reclusão.

Apesar da experiência da prisão -23 horas diárias de confinamento em uma sala e uma hora em um pátio pequeno, segundo seu advogado, Scott Gilbert-, o americano disse que, para ele, os cubanos, "pelo menos a maior parte deles", são "gentis, generosos e talentosos".

Com aparente bom humor -no sorriso faltam diversos dentes-, Gross disse esperar que, com o novo acordo, os dois países amenizem suas "políticas mutuamente beligerantes". "Dois errados nunca fazem um certo."

No discurso, também enfatizou a gratidão a Obama e à comunidade judaica. Preso em dezembro de 2009, ele era contratado de um projeto para instalar internet em uma comunidade judaica em Cuba, a mando da Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional).

REDE VESPA

Os três agentes cubanos libertados nesta quarta são remanescentes da chamada Rede Vespa. Entre eles está Gerardo Hernández, que foi chefe da rede. Ele foi condenado a duas prisões perpétuas porque, segundo o governo americano, com suas informações, o regime cubano derrubou um avião em Havana com quatro passageiros.

O voo foi organizado pela organização anticastrista Irmãos para o Combate, segundo o governo cubano, com o objetivo de promover ataques.

Os demais libertados são Ramón Labañino e Antonio Guerrero, também condenados à prisão perpétua.

Em 1990, o regime cubano criou a Rede Vespa, formada por um grupo de 15 agentes que se infiltrou em Miami, onde se aproximaram de grupos anticastristas. Dos 15, um se desligou antes da operação do FBI (polícia federal dos EUA), realizada em 1998, que desmobilizou o grupo. Dez foram presos -quatro escaparam e retornaram a Cuba.

Entre os presos, cinco fizeram uma espécie de delação premiada. Foram soltos e estão em paradeiro desconhecido, provavelmente nos EUA. Os demais cinco foram presos e condenados.

Além dos agora libertos, completam esse grupo René González e Fernando González, que deixaram a prisão após acordos recentes, respectivamente, em 2011 e em fevereiro deste ano.


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