Folha de S. Paulo


Leia a íntegra do discurso de Raúl Castro sobre acordo entre Cuba e EUA

Confira abaixo a íntegra do discurso do presidente cubano, Raúl Castro, sobre o restabelecimento das relações com os Estados Únidos após 53 anos.

*

Compatriotas,

Desde minha eleição como presidente dos conselhos de Estado e de Ministros reiterei, em múltiplas ocasiões, nossa disposição de travar com o governo dos Estados Unidos um diálogo respeitoso, baseado na igualdade soberana, para tratar de forma recíproca dos temas mais diversos, sem prejudicar a independência nacional e a autodeterminação de nosso povo.

Essa é uma posição que foi expressa ao governo dos Estados Unidos, de maneira pública e privada, pelo companheiro Fidel em diferentes momentos de nossa longa luta, com a proposta de discutir e resolver as diferenças através de negociações, sem renunciar a um único de nossos princípios.

Diante de grandes perigos, agressões, adversidades e sacrifícios, o heroico povo cubano demonstrou que é e será fiel a nossos ideais de independência e justiça social. Estreitamente unidos nestes 56 anos de Revolução, conservamos lealdade profunda aos que tombaram defendendo esses princípios desde o início de nossas guerras de independência, em 1868.

Agora, não obstante as dificuldades, levamos adiante a atualização de nosso modelo econômico, para construir um socialismo próspero e sustentável.

Graças a um diálogo no mais alto nível, que incluiu uma conversa telefônica que tive ontem com o presidente Barack Obama, foi possível adiantar a solução de alguns assuntos de interesse para os dois países.

Como prometeu Fidel em junho de 2001, quando disse "voltarão!", Gerardo, Ramón e Antonio desembarcaram hoje em nossa pátria.

A enorme alegria de seus familiares e de todo nosso povo, que se mobilizou incansavelmente com esse objetivo, se estende entre as centenas de comitês e grupos de solidariedade; os governos, Parlamentos, organizações, instituições e personalidades que durante estes 16 anos fizeram esforços ousados pela libertação deles. A todos eles expressamos a mais profunda gratidão e o mais profundo compromisso.

Esta decisão do presidente Obama merece o respeito e o reconhecimento de nosso povo.

Quero agradecer e reconhecer o apoio do Vaticano, e especialmente do papa Francisco, à melhora das relações entre Cuba e Estados Unidos. Igualmente, ao governo do Canadá pelas facilidades criadas para a realização do diálogo de alto nível entre os dois países.

Em contrapartida, decidimos libertar da prisão e enviar aos Estados Unidos um espião de origem cubana que esteve a serviço dessa nação.

Por outro lado, por razões humanitárias, hoje também foi mandado de volta a seu país o cidadão americano Alan Gross.

De modo unilateral, como é nossa prática e em estrita conformidade com nossas leis, os prisioneiros correspondentes receberam benefícios penais, incluindo a libertação de pessoas pelas quais o governo dos Estados Unidos tinha demonstrado interesse.

Igualmente, acordamos o restabelecimento das relações diplomáticas.

Isso não quer dizer que o principal tenha sido resolvido. O bloqueio econômico, comercial e financeiro que provoca prejuízos humanos e econômicos enormes a nosso país precisa acabar.

Embora as medidas do bloqueio tenham sido convertidas em lei, o presidente dos Estados Unidos pode modificar sua aplicação, fazendo uso de seus poderes executivos.

Propomos ao governo dos Estados Unidos adotar medidas mútuas para melhorar o clima bilateral e avançar em direção à normalização das relações entre nossos países, com base nos princípios do direito internacional e da Carta das Nações Unidas.

Cuba reitera sua disposição de manter a cooperação nos organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas.

Ao reconhecer que temos diferenças profundas, fundamentalmente em matéria de soberania nacional, democracia, direitos humanos e política externa, reafirmo nossa disposição de dialogar sobre esses temas.

Exorto o governo dos Estados Unidos a remover os obstáculos que impedem ou restringem os laços entre nossos povos, as famílias e os cidadãos dos dois países, em especial os obstáculos às viagens, ao correio postal direto e às telecomunicações.

Os progressos conquistados nos intercâmbios mantidos demonstram que é possível encontrar soluções para muitos problemas.

Como já repetimos, precisamos aprender a arte de conviver de forma civilizada com nossas diferenças.

Voltaremos a falar mais adiante sobre estes temas importantes.

Muito obrigado.


Endereço da página:

Links no texto: