Folha de S. Paulo


Polícia turca invade instalações de mídia e prende 24 pessoas

A polícia turca invadiu instalações de meios de comunicação próximos a um clérigo muçulmano baseado nos Estados Unidos neste domingo (14) e prendeu 24 pessoas, incluindo executivos e ex-chefes de polícia, em operações contra o que o presidente Tayyip Erdogan diz ser uma rede terrorista conspirando para derrubá-lo.

As invasões ao jornal "Zaman" e à televisão Samanyolu marcaram uma escalada da batalha de Erdogan com o ex-aliado Fethullah Gülen, com quem está em conflito aberto desde que uma investigação por corrupção sobre o circulo próximo a Erdogan surgiu há um ano.

Em cenas divulgadas ao vivo por canais de TV turcos, Ekrem Dumanli, editor-chefe do "Zaman", sorriu e avaliou documentos da polícia antes de ser levado pelos escritórios do jornal sob aplausos dos funcionários.

"Deixem aqueles que cometeram crimes ficarem com medo", disse ele conforme a polícia o levava com dificuldade pela multidão até um carro. "Não estamos com medo."

A imprensa informou que mandados de prisão foram emitidos para 32 pessoas. A emissora estatal TRT Haber disse que 24 pessoas foram detidas em incursões na Turquia, incluindo dois ex-chefes de polícia. Produtores e funcionários de séries dramáticas da Samanyolu foram detidos, junto com o presidente do grupo.

"Este é um espetáculo vergonhoso para a Turquia", disse o presidente Hidayet Karaca antes de sua prisão. "Infelizmente, na Turquia do século 21, este é o tratamento dado a um grupo de mídia com dezenas de estações de rádio e televisão, mídia de internet e revistas."

Erdogan, do Partido AK eleito em 2002, adotou muitas reformas democráticas em seus primeiros anos no poder e restringiu a participação do Exército na política. Aliados da Otan frequentemente citam a Turquia como um exemplo de democracia muçulmana bem-sucedida, mas recentemente os críticos têm acusado Erdogan de intolerância com a oposição e de, cada vez mais, uma reversão às raízes islâmicas.

Bulent Kenes, também editor do "Zaman", disse à Reuters que a polícia havia mostrado a eles documentação que se referia a uma acusação de "formação de quadrilha para tomar a soberania do Estado".

Os ministros do governo se recusaram a fazer comentários específicos sobre as operações, mas o ministro da Saúde, Mehmet Muezzinoglu, disse que "qualquer pessoa que comete erros paga o preço", informou a mídia estatal.

REPERCUSSÃO

Neste domingo (14), os EUA e a União Europeia criticaram a ação do governo do presidente Erdogan.

A porta-voz do Departamento de Estado americano, Jen Psaki, exortou a Turquia a respeitar a liberdade de imprensa e outros valores democráticos e destacou que a operação parecia ter como alvo meios de comunicação abertamente críticos ao governo.

"Liberdade de imprensa, processo devido e independência judicial são elementos-chave em todas as democracias saudáveis e estão consagrados na Constituição turca", disse a porta-voz. "Como amigos e aliados da Turquia, instamos as autoridades turcas a garantir que suas ações não violem esses valores."

Em comunicado, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, declarou que a operação da polícia turca é incompatível com a liberdade da mídia e "contrária aos valores e padrões da Europa, aos quais a Turquia aspira" –os turcos negociam sua entrada na UE desde 2005.


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