Folha de S. Paulo


Marchas antiviolência policial reúnem milhares em cidades dos EUA

Milhares de pessoas se reuniram na Freedom Plaza, em Washington, na manhã deste sábado (13) para marchar em direção ao Congresso contra casos recentes de violência policial contra negros nos Estados Unidos.

À frente da marcha, os familiares de Eric Garner, Michael Brown e Tamir Rice, todos mortos por policiais, conduziam os manifestantes, que gritavam "Sem Justiça, sem Paz" e seguravam cartazes com a frase "as vidas dos negros são importantes."

Organizada pela National Action Network (Rede de Ação Nacional), do reverendo Al Sharpton, conhecido ativista dos direitos civis no país, a marcha "Justiça para Todos" pedia a intervenção do governo federal e do Congresso para que os responsáveis pelas mortes sejam responsabilizados e para evitar novos casos.

"Meu marido era um homem quieto, mas olhem quanto barulho ele está fazendo agora", disse Esaw, a mulher de Eric Garner, à multidão em palco montado pelos organizadores.

"Uau, é um mar de gente", disse a mãe de Michael Brown, Lesley McSpadden em um discurso emocionado. "Se eles virem isso e não mudarem nada, não sei o que faremos."

A mãe de Garner, Gwen Carr, afirmou que a marcha faria história. "Nossos filhos podem não estar mais aqui, mas estão conosco em cada um de vocês. Eu agradeço muito a todos."

A Rede Nacional de Ação, liderada por Sharpton, estimava que cerca de 6.000 pessoas comparecessem à manifestação deste sábado. Nenhuma estimativa oficial, no entanto, foi dada pela polícia.

O protesto atraiu organizações de direitos civis de diversas partes do país.

Bem organizada e com infraestrutura, a marcha lembrava pouco os protestos das últimas semanas em Nova York e Ferguson, Missouri, organizados por jovens e sempre seguidos pela presença constante da polícia.

Em Washington, os policiais cuidaram de bloquear as vias para o protesto passar, mas não se aproximaram dos manifestantes, em sua maioria mais velhos.

Além do palco com telões montado para os discursos e bloqueios feitos pela própria organização, banheiros químicos também foram instalados para os participantes.

A presença de Sharpton –e o estilo da marcha– é controversa entre os manifestantes mais jovens.

Durante a concentração, na manhã deste sábado, um grupo de cerca de 15 jovens tomou o palco com um alto-falante e anunciaram que tinham vindo de St. Louis e Ferguson, em Missouri. Diversos manifestantes gritaram em apoio "Deixem eles falarem."

Johnetta Ezlie, então, pegou o microfone e disse: "Esse movimento foi começado pelos jovens."

Depois de descer do palco, ela afirmou em entrevista à Associated Press: "Eu achei que seriam ações, não um show."

Alguns dos manifestantes jovens acusam Sharpton de tentar se apropriar do movimento iniciado por eles após um júri de St. Louis decidir não indiciar o policial Darren Wilson, que matou a tiros o jovem Michael Brown, 18, em Ferguson.

Os protestos cresceram depois que um outro júri, de Staten Island, em Nova York, também liberou Daniel Pantaleo, um policial que matou por sufocamento Eric Garner, 43.

"Precisamos dos dois grupos", disse Barbara Wein, 55, professora da American University, que estava na marcha com a família. "Os jovens trazem nova vida e dinâmica à luta, e as organizações de direitos civis têm a experiência de quem já está nisso há muito tempo."

MAIS PROTESTOS

Outras manifestações também ocorreram ao longo do dia em Nova York, Boston (Massachusetts) e Austin (Texas).

Em Boston, a polícia prendeu ao menos 23 pessoas quando os manifestantes tentaram bloquear uma via expressa da cidade.

Os manifestantes de Nova York marcharam pela Quinta Avenida aos gritos de "Como você soletra racismo? NYPD [a sigla para o departamento de polícia da cidade]". A intenção era terminar a marcha, pacífica, em frente à sede da polícia.


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