Folha de S. Paulo


Vice-presidente de Bush diz que ele sabia o que acontecia na CIA

O ex-vice-presidente americano Dick Cheney disse que o ex-presidente George W. Bush estava "totalmente informado" sobre as práticas da CIA, reveladas por um relatório do Senado nesta terça-feira (9).

"A ideia de que a agência estava operando de forma enganosa e de que nós não estávamos sendo informados é uma mentira completa", disse Cheney em uma entrevista à Fox News. "Ele [Bush] sabia de tudo o que precisava e que queria sobre o programa."

Segundo o relatório do Comitê de Inteligência do Senado, os interrogatórios com suspeitos de terrorismo eram "mais brutais e piores" do que a CIA apresentava à Casa Branca e ao Congresso.

Cheney criticou o relatório, dizendo que era falho e cheio de besteiras. O texto dá detalhes sobre torturas feitas com detidos entre 2002 e 2008, como simulação de afogamento e até alimentação retal.

"A investigação não se deu o trabalho de entrevistar pessoas chave envolvidas com o programa", disse.

Paul Buck/AFP
Dick Cheney (esq.) e George W. Bush, em fórum econômico no Texas, em 2002
Dick Cheney (esq.) e George W. Bush, em fórum econômico no Texas, em 2002

O ex-vice-presidente defendeu a CIA e disse que as técnicas controversas salvaram vidas e produziram resultados.

"O que devemos fazer [com Khaled Sheikh Mohamed, o suposto cérebro dos atentados de 11 de Setembro]? Beijá-lo nas bochechas e dizer: 'Por favor, por favor, nos diga o que você sabe?' Claro que não", disse Cheney.

O relatório, porém, afirma que a tortura realizada pela CIA contra suspeitos de terrorismo não permitiu obter informações válidas.

"Pedimos à CIA para ir tomar medidas e implementar programas que foram projetados para pegar os bastardos que mataram 3.000 de nós no 11 de Setembro e se certificar de que isso não voltaria a acontecer, e isso foi exatamente o que eles fizeram, e eles merecem bastante crédito", disse Cheney.

Cheney foi vice-presidente nos dois mandatos de George W. Bush, entre 2001 e 2009.

Barack Obama disse na terça que a publicação do relatório ajudaria a "deixar essas técnicas aonde elas pertencem –no passado".

Bush havia se pronunciado antes da divulgação do relatório, no domingo (7), mencionando os homens e mulheres que trabalham duro na CIA.

INFORMAÇÕES

O relatório diz que Bush foi informado, em abril de 2006, que a CIA tinha prisões secretas nas quais torturava prisioneiros, há quatro anos, para obter informações na chamada guerra contra o terror.

Segundo o documento, a CIA revelou a Bush o emprego das técnicas de interrogatório no dia 8 de abril de 2006, após enviar memorandos confidenciais ao departamento de Justiça sobre o mesmo programa em 2002 e 2005.

O então presidente republicano manifestou seu repúdio ao ver "a imagem de um preso acorrentado ao teto usando uma fralda, obrigado a fazer suas necessidades nela", revela a página 40 do relatório.

JULGAMENTO

Organizações de direitos humanos pediram que os EUA processem os responsáveis pelos abusos, mas o governo não deu indícios de que pretenda fazê-lo.

No entanto, eles ainda podem ser julgados fora do país, inclusive no Tribunal Penal Internacional.

Ainda que os EUA não sejam signatários do Estatuto de Roma, que criou a corte em Haia, as autoridades americanas podem enfrentar processos por suas atividades em países que fazem parte do acordo, como o Afeganistão.


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