Folha de S. Paulo


Ex-presos de Guantánamo deixaram hospital e já dividem casa no Uruguai

Os cinco ex-prisioneiros de Guantánamo que receberam alta nesta quarta-feira (10), deixaram o Hospital Militar de Montevidéu na madrugada desta quinta (11), segundo o jornal uruguaio "El País".

Apenas um dos ex-detentos, o sírio Jihad Diyab, 43, que chegou ao país em estado mais crítico, seguirá internado.

Os também sírios Omar Mahmoud Faraj, 39, Ali Hussain Shaabaan, 32, e Ahmed Adnan Ahjam, 37, o palestino Mohammed Tahanmatan, 35, e o tunisiano Abdul bin Mohammed Abis Ourgy, 49, já estariam alojados na casa cedida pelo principal sindicato de trabalhadores do país, PIT-CNT (Plenário Intersindical de Trabalhadores - Convenção Nacional de Trabalhadores), na capital uruguaia.

Assim como a chegada dos ex-detentos no país no último domingo (7), a operação da saída teria sido feita de madrugada para despistar a imprensa, que há quatro dias fazia plantão em frente ao hospital.

O endereço do imóvel tem sido mantido sob sigilo para preservar a privacidade dos ex-detentos. À Folha, o coordenador do sindicato, Fernando Pereira, disse que nem mesmo os vizinhos foram informados sobre os novos moradores do local.

"Esses homens não representam nenhuma ameaça à vizinhança. Quando eu me mudo para um lugar, nunca preciso avisar aos novos vizinhos que vou viver ali. Com eles não é diferente", disse Pereira.

QUARTOS COMPARTILHADOS

Segundo o coordenador, os seis ex-prisioneiros de Guantánamo dividirão os três quartos e dois banheiros do imóvel de um andar. A casa possui ainda um pequeno jardim, cozinha e sala de estar com TV. "Tem tudo o que tem uma casa simples uruguaia: nem mais, nem menos", resumiu Pereira.

O PIT-CNT oferecerá cursos profissionalizantes aos seis, que também terão aulas de espanhol neste período. O sindicato e o governo uruguaio dividirão as principais despesas da casa e com alimentação dos seis ex-prisioneiros. O governo também já teria providenciado roupas novas para o grupo, segundo o "El País".

"Eles ficarão por um tempo na casa, onde poderão estudar juntos e receber ajuda do governo até que possam viver de forma independente", disse Jerry Cohen, advogado do palestino Tahanmatan, à Folha, na quarta-feira.

Ainda não há previsão de alta para Diyab, que fez greve de fome durante um longo período em Guantánamo e foi submetido a alimentação forçada, por meio de sondas, na prisão.

Ele foi o único a precisar de uma cadeira de rodas ao desembarcar no país, no domingo, e apresentou, nos últimos dias, o quadro mais sensível, agravado por fortes dores nas costas.

REFUGIADOS

Os seis ex-prisioneiros já teriam também assinado os papeis que os reconhecem como refugiados no Uruguai. Sob esse status, eles poderão viver e trabalhar no país por tempo indeterminado. Alguns deles cogitam trazer as famílias para o Uruguai, segundo os advogados.

Ao contrário do que ocorreu em outros países para onde foram transferidos prisioneiros de Guantánamo, os seis ex-detentos estão livres para deixar o país quando quiserem, segundo anunciou recentemente o presidente do Uruguai, José Mujica.

Em março, Mujica havia aceitado receber prisioneiros da controversa prisão americana de Guantánamo, em Cuba. O processo, no entanto, teria ficado parado por meses por decisão do secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel.

A transferência de prisioneiros é o primeiro passo para cumprir a promessa feita por Barack Obama, no início de seu primeiro mandato, de fechar Guantánamo.


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