Folha de S. Paulo


Repórter investigativa é presa no Azerbaijão

A repórter investigativa azeri Khadija Ismayilova, que cobre o Azerbaijão para a Rádio Europa Livre (RFE), foi detida nesta sexta-feira (5) na capital do país, Baku. Ela deverá ficar detida por dois meses até seu julgamento. Se condenada, pode ficar presa por até sete anos.

Ismayilova foi acusada de incitar um repórter freelance ao suicídio. Segundo a imprensa local, ele era colaborador da RFE e a acusou de persuadir seus chefes a deixarem de o contratar. Os editores da RFE negam que isso tenha ocorrido.

"A detenção de Khadija Ismayilova é a mais recente tentativa numa campanha de dois anos para silenciar uma jornalista que investigou corrupção e abusos de direitos humanos no Azerbaijão", disse Nenad Pejic, editor da RFE. "Khadija está sendo punida por seu jornalismo", afirmou.

Ismayilova fez diversas reportagens sobre os negócios da família do presidente do país, Ilham Aliyev. Nos últimos anos, sofreu diversas campanhas de chantagem e acusações de fundo machista devido ao seu trabalho.

Um dia antes de a repórter ser acusada e detida, o principal assessor do presidente, Tamiz Mehdiyev, publicou uma declaração de 60 páginas acusando Ismayilova de ter uma "atitude destrutiva contra membros bem conhecidos da comunidade azeri", o que "agrada a seus chefes estrangeiros". A declaração também acusava os funcionários da RFE de trabalharem "para um serviço secreto estrangeiro".

Drew Sullivan, editor do Projeto de Cobertura de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP), com o qual Ismayilova também colabora, afirma que se trata de uma tentativa de intimidação. "Isso parece uma escalada do assédio que Khadija vem sofrendo por parte do governo por publicar notícias relevantes para o povo do Azerbaijão. Encorajo o governo a tolerar o jornalismo investigativo e soltar Khadija e outros que enfrentam detenção ilegal."

Em fevereiro, quando aumentava a pressão do governo, Khadija escreveu uma carta aberta aos jornalistas em que dizia: "Se/quando eu for presa, quero que o público compreenda os motivos. As investigações de corrupção foram a causa da minha prisão. O governo não está confortável com o que faço. Estou prestes a concluir três investigações. Quero conseguir concluí-las antes que qualquer coisa aconteça. Caso contrário, meus editores e colegas as concluirão e publicarão."


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