Folha de S. Paulo


América do Sul enfrenta "ataques de conservadorismo", diz Lula

A América do Sul vive um "segundo ciclo de vitórias eleitorais", mas é alvo de "porta-vozes mundiais de conservadorismo político e econômico". A análise foi feita nesta quarta-feira (3) pelo ex-presidente Lula, em seminário no Equador sobre a integração dos países da América Latina e Caribe.

Em tom elogioso, Lula destacou os governos de presidentes como Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e José Mujica (Uruguai), além de ressaltar a vitória recente da presidente Dilma, "numa campanha duríssima, que mobilizou fortemente os setores populares e democráticos da nossa sociedade".

"O fato é que desde a reeleição do companheiro Rafael Correa do Equador e Nicolás Maduro na Venezuela, forças progressistas inauguraram um segundo ciclo de vitórias eleitorais em nossa região", afirmou para os presentes. Em discurso de 1h30, Lula foi aplaudido em diversos momentos pela plateia, e foi recebido por gritos de "Lula, bem-vindo. O Equador está contigo".

O seminário do qual Lula foi palestrante faz parte de uma agenda paralela à cúpula da Unasul, que começa nesta quinta-feira (4). O bloco deverá trocar sua presidência e inaugurar sua sede, em Quito. A presidente Dilma Rousseff é esperada na cerimônia.

Amanhã, Lula deve ter uma reunião ainda com o presidente do Equador.

RADICALIZAÇÃO DA DIREITA

O ex-presidente Lula elogiou a recente vitória de Tabaré Vásquez no Uruguai e ponderou que nos últimos anos "os governos transformadores sofreram os mais duros ataques por parte de adversários internos". Ele ainda criticou o que considera ações mais radicais da direita.

"Apesar da dureza da disputa [eleitoral] com a radicalização cada vez mais estridente da direita, apesar de todas as dificuldades, o povo renovou confiança nos governos de transformação social de toda a nossa região", afirmou.

"Numa interferência totalmente descabida em assuntos internos, analistas de mercado, agentes de risco e organismos multilaterais tentaram desqualificar políticas econômicas soberanas que evitaram desemprego e recessão econômica em nossos países", completou.

Para Lula, a América Latina está construindo "um rigoroso projeto alternativo ao neoliberalismo".

BUROCRACIA

Apesar de elogiar as alianças e destacar a relevância de blocos regionais, o ex-presidente cobrou maior empenho em aprofundar a relação entre os vizinhos, além de criticar a demora em ver iniciativas saírem do papel.

"Poderíamos e deveríamos ter feito muito mais. A verdade é que o avanço da integração não está à altura do nosso potencial e, sobretudo, das nossas necessidades", afirmou. Lula ponderou que a crise econômica mundial atuou como um "efeito inibidor" da integração.

"Estou convencido de que é justamente o contrário. Quanto mais nos integrarmos, melhores serão nossas condições para enfrentar e superar os efeitos da crise. A integração não é um problema, ela é parte da solução", concluiu.

Lula defendeu ainda uma mudança na tramitação, no Legislativo, de acordos internacionais. "Não basta os presidentes quererem. É preciso a burocracia cumprir. (...) Os parlamentos devem criar mecanismo especiais, mais ágeis, para consolidar a aprovação de acordos feitos entre os governantes", disse.


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