Folha de S. Paulo


Colômbia flexibiliza sua política de drogas

Vinte e cinco anos após ter tido o pai assassinado em praça pública por ordem do narcotráfico, Juan Manuel Galán, 43, transforma-se em principal responsável pelo início da flexibilização da política de combate às drogas na Colômbia.

No último dia 11, o Senado do país aprovou o uso da maconha para fins medicinais, legislação proposta pelo parlamentar como um primeiro passo para "uma abordagem nova ao combate ao crime organizado, uma alternativa à mera proibição", diz.

O senador liberal é filho do candidato à presidente Luis Carlos Galán (1943-1989), executado por ordem do cartel de Medellín no palanque, durante um comício de campanha eleitoral.

Galán, que era favorito nas pesquisas, se transformou numa espécie de mártir popular da violência dos anos 80. Há quase cinco décadas, o governo colombiano enfrenta cartéis de narcotráfico e ex-guerrilhas de esquerda hoje dedicadas à atividade criminosa.

Na época do crime, Juan Manuel tinha apenas 17 anos, e foi obrigado a deixar o país com a mãe e os irmãos para escapar de mais ameaças.

A tia, Maruja Pachón, então ministra da Educação, foi sequestrada logo depois, na operação comandada por Pablo Escobar que seria imortalizada no livro de Gabriel García Márquez, "Notícias de um Sequestro".

Após concluir estudos em ciência política em Paris e em Washington, Juan Manuel Galán foi eleito senador em 2006. Desde então, tem defendido políticas de flexibilização da proibição das drogas e a favor do matrimônio gay e da eutanásia.

Leia, abaixo, trechos da entrevista que concedeu à Folha, por telefone, de Bogotá.

*

Seu pai foi morto pelo narcotráfico, durante o pior período de enfrentamento dos cartéis com o governo. Por conta disso, algumas pessoas o criticam por defender a flexibilização de políticas contra as drogas. Como o sr. responde a essas críticas?

Meu pai nunca foi contra a droga propriamente dita, contra nenhuma substância, e muito menos contra aqueles que as consomem. Seu inimigo era o crime organizado, e assumiu durante a campanha o compromisso de enfrenta-lo.

Foram os criminosos, que lucram com a produção e a distribuição das drogas, que mataram meu pai. Tenho certeza de que ele apoiaria ações de defesa do consumidor e de tratamento do vício como questão de saúde pública.

Por que o sr. defende uma mudança no modo como se combate o narcotráfico na Colômbia hoje?

Porque já estamos há cinquenta anos combatendo a droga com a força e com políticas de proibição, e só temos mais mortos.

A violência não acabou e o combate bélico ao crime organizado significa imensos custos ao Estado e grande desvio de recursos que poderiam ir a outras áreas.

O que defendo não é a legalização, mas a regulamentação, porque permite formular um sistema de autorizações e controle da produção e da distribuição.

Foi feito com o tabaco, com o álcool, portanto é possível. A regulação, ainda, permite arrecadar impostos, o que gera recursos para controlar também a qualidade do produto.

A lei da maconha como foi aprovada no Uruguai é um modelo?

Sim, mas não somente. Há outras experiências em curso há mais tempo, com mais resultados para serem observados, como as de alguns Estados norte-americanos e países como Portugal e Holanda.

Muitos estão buscando esse caminho, porque exemplos como os da Colômbia e do México, de enfrentamento e proibição, continuam gerando mortes e altos gastos.

Por enquanto, estamos aprovando apenas o uso medicinal da maconha, mas é um grande passo para um país como a Colômbia.


Endereço da página: