Folha de S. Paulo


"Ele me olhava como um demônio", disse policial de Ferguson em depoimento

"Eu me senti como um menino de cinco anos segurando o Hulk Hogan", disse o policial Darren Wilson, 28, em seu testemunho ao júri.

Hulk Hogan é um astro da luta livre americana, de 2,01 metros de altura.

Em entrevista à rede ABC nesta terça (25), Wilson disse que não poderia ter feito nada diferente no episódio em que matou Michael Brown, 18. "Ele poderia me matar. Não poderia deixar que ele fugisse, o meu papel era detê-lo".

"Meu trabalho não é sentar e esperar. Se eu não atirar, ele me mata. Tenho a consciência limpa", disse. "Quero ter uma vida normal agora."

A ação inteira durou 90 segundos –do momento em que Wilson vê Brown saindo de uma loja de conveniência, que o rapaz tinha acabado de assaltar, até o último dos 12 tiros que deu nele.

No testemunho, ele conta que viu Brown com os cigarros roubados na mão. "'Vem aqui', disse a Brown e abri a porta do carro policial. Ele me olhou e disse 'o que é que você vai fazer agora?' e bateu a porta de volta. Ele me olhava como se quisesse me intimidar."

O jovem se aproximou do carro e deu dois socos no policial que estava sentado no veículo, ainda segundo seu relato. Foi quando Wilson disparou os dois primeiros tiros. Entre as provas reunidas havia sangue de Brown no interior do automóvel.

Depois do segundo tiro, Brown correu e Wilson saiu do carro. Brown não se atirou no chão, como ordenava o policial. "Ele me olhava com fúria. O único jeito que consigo descrevê-lo é que se parecia a um demônio." Segundo Wilson, o jovem corria em direção a ele quando o policial voltou a atirar.

De acordo com o relatório da investigação divulgado pelo promotor, Robert McCulloch, o policial atirou 12 vezes em Brown, dez delas quando já estava fora do carro. O último tiro foi na testa do jovem.

Várias testemunhas dizem que Brown estava com as mãos levantadas quando levou os tiros. Seu gesto inspirou o slogan dos manifestantes de Ferguson: "Mãos ao alto, não atire".

"A descrição de como ele levantou os braços variou muito entre as testemunhas", disse McCulloch. O corpo inerte de Brown, a 46 metros do carro policial, ficou quatro horas e meia no chão.


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