Folha de S. Paulo


México chama embaixador do Uruguai após Mujica falar de desaparecidos

O governo mexicano chamou no domingo (23) o embaixador do Uruguai no país depois que o presidente uruguaio, José Mujica, declarou que o México é um "Estado falido", ao comentar o caso do desaparecimento de 43 estudantes.

Em comunicado, a Secretaria de Relações Exteriores (SRE) do México manifestou "surpresa e rejeitou categoricamente" algumas declarações do presidente uruguaio, publicadas na sexta-feira (21) no site da revista Foreign Affairs Latinoamérica.

"A esse respeito, a SRE estabeleceu contato com a chancelaria uruguaia e decidiu citar o embaixador desse país no México", acrescentou o comunicado, referindo-se ao diplomata Jorge Delgado.

O caso dos 43 estudantes da escola normal rural de Ayotzinapa, no sul do país, gerou comoção internacional e a pior crise política até agora para o governo do presidente Enrique Peña Nieto, que enfrenta uma onda de protestos de mexicanos cansados da violência e impunidade.

Em um trecho da entrevista, concedida na quarta-feira (19), Mujica classificou de "terrível" a morte dos estudantes e afirmou que, visto à distância, o México é "uma espécie de Estado falido" cujos poderes públicos estão totalmente fora de controle.

Além disso atribui essa situação a uma "gigantesca corrupção" que se estabeleceu como um "costume social tácito" no México.

Em outro trecho, Mujica afirmou que o México está obrigado a esclarecer esse desaparecimento "caia quem cair".

"Quer dizer que há mais mortos que não estão nem sequer sendo reclamados. Então a vida humana vale menos que a de um cachorro", disse Mujica, segundo a revista.

SOLIDÁRIO

No domingo, no entanto, o presidente uruguaio manifestou sua solidariedade com o México e países como Honduras e Guatemala, onde o narcotráfico também afeta a segurança.

"Não são, nem serão, estas nações Estados inócuos ou falidos, porque têm cimentos históricos de nações pré-colombianas, possuem capital político em seus partidos e em suas decisões democráticas, que estão acima de suas vicissitudes de hoje", disse Mujica, segundo a página da Presidência na internet.

"Nos sentimos solidários com o México, mas além disso comprometidos com sua luta, e no que for possível, estamos à disposição de seu governo legítimo para apoiá-lo em tudo o que possa facilitar o enfrentamento deste difícil momento", acrescentou.

A crise começou quando os 43 alunos de Ayotzinapa desapareceram em 26 de setembro após uma emboscada na cidade de Iguala, no Estado de Guerrero, organizada por policiais municipais e membros do cartel Guerreros Unidos.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, a ataque foi ordenado pelo prefeito da cidade, José Luis Abarca, para evitar que os alunos chegassem a um evento que lançaria sua mulher, María de los Ángeles Pineda, à sua sucessão.

Os estudantes eram conhecidos por sua participação em movimentos sociais e já haviam protestado antes contra o prefeito, quando ele foi acusado de matar um dos principais líderes sindicais do Estado de Guerrero em 2013.


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