Folha de S. Paulo


Morre ex-prefeito de Washington que foi preso por fumar crack, em 1991

Marion Barry, ex-prefeito de Washington que foi preso fumando crack e voltou a se eleger após sair da cadeia, morreu na manhã deste domingo (23), aos 78 anos.

Antes de cair em desgraça política, Barry era um dos mais promissores políticos negros dos Estados Unidos. Muitos anos após seus mandatos, muitos moradores de Washington o consideram mau caráter, mas ele continuou sendo tido como herói por muitos residentes de partes pobres da cidade, mesmo depois de sua contínua luta contra o vício se tornar pública.

Barry, que foi rapidamente hospitalizado na semana passada, morreu no United Medical Center, em Washington, informou uma porta-voz do hospital. A causa da morte não foi imediatamente divulgada.

Ele teve três mandatos entre 1979 e 1991, quando foi preso por seis meses. Voltou ao poder na eleição de 1995. Seu terceiro mandato foi marcado por acusações de casos amorosos, alcoolismo e uso de drogas. Ele se tornou alvo de piadas de comediantes e de críticas da imprensa. Vários auxiliares seus foram condenados por corrupção. Barry respondia com negativas e dizia ser vítima de uma mídia racista.

Anos depois, em sua autobiografia, Barry disse que era movido naqueles dias por "uma mistura de poder, atração, álcool, sexo e drogas".

Em 18 de janeiro de 1990, casado, Barry encontrou uma ex-namorada, a ex-modelo Rasheeda Moore, no hotel Vista, de Washington. Câmeras ocultas captaram o então prefeito perguntando à modelo sobre a possibilidade de fazer sexo e dando duas tragadas num cachimbo de crack. Logo depois, agentes do FBI e da polícia correram para prendê-lo.

Durante seu julgamento de seis meses, que veio quando Washington sofria uma epidemia de crack e uma série de homicídios relacionados a drogas, Moore testemunhou que ela e Barry haviam usado cocaína até 100 vezes antes.

Na sentença que condenou Barry a seis meses de prisão, o juiz disse que o prefeito havia "dado auxílio, conforto e estímulo à cultura das drogas e contribuiu à angústia que as drogas ilegais infligiram a esta cidade, de diversas maneiras, por muito tempo."

A cadeia podia ter sido o fim da política para o filho de um lavrador do Mississippi, mas a humilhação não matou sua carreira política.

Assim que foi solto, ele se mudou para o Ward 8 de Washington, uma das regiões mais violentas da cidade, e facilmente foi eleito vereador em 1992. Seu slogan de campanha era "posso não ser perfeito, mas sou perfeito para Washington".

Dois anos depois, Barry surpreendeu o país ao retornar à prefeitura com 56% dos votos, embora desta vez muito poucos deles tenham vindo de eleitores brancos. Ao final do mandato, Barry não tentou a reeleição e passou a trabalhar como consultor.

Mas ele não conseguia ficar longe da política. Em 2004, ele facilmente voltou ao Legislativo municipal e foi reeleito em 2008.

Ele começou a militar no movimento pelos direitos civis quando era estudante universitário no Tennessee. Logo que chegou a Washington, organizou um boicote para protestar contra o aumento das tarifas de ônibus e fez campanha pela criação de uma administração própria no Distrito de Columbia, onde a capital do país está localizada, então controlado pelo governo federal.

Seu primeiro mandato eletivo foi no conselho escolar de Washington, tornando-se um personagem nacional pelos dez anos seguintes. Como vereador, em 1977, ele foi baleado por um grupo de muçulmanos durante uma crise de reféns no prédio do governo municipal.

Tornou-se prefeito em 1979, com amplo apoio de eleitores negros e brancos, focando recursos em bairros pobres, priorizando contratos governamentais para empresas de negros e criando cargos na administração municipal.

Barry foi casado quatro vezes e tinha um filho. Sofreu com uma série de problemas de saúde, incluindo diabetes e câncer de próstata, e recebeu um transplante de fígado em 2009.


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