Folha de S. Paulo


Onda de protestos no México faz políticos serem alvo de radicais

Políticos mexicanos têm sido agredidos em público por jovens encapuzados que parecem ser a versão local dos "black blocs".

Os grupos têm organizado bloqueio aos aeroportos no país, na onda de protestos cada vez mais violentos pelo desaparecimento de 43 estudantes em Guerrero no final de setembro.

Pertencentes a uma escola ligada a movimentos sociais, teriam sido mortos por ordem de políticos locais ligados a cartéis de drogas. O caso causou comoção no México e levou à maior crise política do governo Enrique Peña Nieto.

Editoria de Arte/Folhapress

Escondendo o rosto com máscaras, integrantes da Frente Popular Revolucionária, dissidência de extrema esquerda do histórico Partido Revolucionário Institucional (PRI), têm chamado a atenção em passeatas que foram predominantemente pacíficas por seis semanas.

Na segunda (10), amigos dos estudantes e professores fecharam o acesso ao aeroporto de Acapulco, cidade turística de Guerrero.

No fim de outubro, radicais ligados a camponeses fecharam o acesso ao aeroporto de Oaxaca, cidade patrimônio mundial da humanidade.

No sábado, grupos anarquistas atearam fogo às portas do centenário Palácio Nacional, que fica na Zócalo, maior praça da capital.

Palácio desde a época dos vice-reis espanhóis, ele abriga os maiores murais do pintor Diego Rivera.

RACHA DE ESQUERDA

Próxima ao Partido Comunista, a Frente Popular critica em seu site os partidos "pequeno-burgueses" e pede a "emancipação proletária".

Seu principal alvo até agora foi o PRD, Partido da Revolução Democrática, o maior partido de esquerda do país.

O racha na esquerda se tornou mais virulento pelas ligações perigosas do PRD no poder.

O prefeito de Iguala, José Luis Abarca, do PRD, é acusado de ordenar a execução dos 43 alunos que protestariam contra ele e de pertencer ao maior cartel do tráfico local, Guerreros Unidos.

Ambos, PRD e Frente Popular nasceram como dissidências do tentacular e onipresente PRI.

Outras ações de impacto do grupo envolvem agressões a políticos do PRD em locais públicos.

Eles atacaram na segunda-feira (10) o senador Alejandro Encinas quando ele saía de um café em Veracruz, depois de participar de um evento sobre os desaparecidos.

Os manifestantes deram-lhe tapas e atiraram uma garrafa de água sobre ele, enquanto gritavam "assassino, assassino".

Na semana passada, Pedro Zambrano, ex-presidente do PRD, o maior partido de esquerda do país, foi atacado quando visitava o campus da Universidade Nacional do México (Unam) na capital.

Em outubro, em um protesto pelo desaparecimento dos normalistas, o líder histórico do PRD, Cuauhtémoc Cárdenas, ex-prefeito da Cidade do México, foi atacado com pedras e garrafas de água por manifestantes. Os gritos de "assassino" se repetiram nos dois casos.

'POLÍTICA'

Encinas falou à TV mexicana que a motivação da agressão "é política, e não humanitária". O PRD sofre uma crise em razão da crise no Estado de Guerrero, onde desapareceram os estudantes.

O governador Ángel Aguirre pediu licença do cargo no dia 24 de outubro, depois de ser pressionado pelo próprio partido a entregar o cargo "para deixar um clima melhor para as investigações".

O partido já emitiu uma nota de desculpas "por não ter feito uma seleção melhor" de seu candidato a prefeito em Iguala.

Mas o presidente Enrique Peña Nieto, que é do PRI, está igualmente sendo acusado por omissão na crise. Ele viajou para a cúpula Ásia-Pacífico, na China.


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