Folha de S. Paulo


Análise: Turquia tenta se equilibrar entre Estado Islâmico e curdos

As autoridades turcas fecham os olhos para o trânsito de suprimentos para o EI através de seu território

O conflito entre a Turquia e os curdos, com mais de três décadas de existência, está no momento arrefecido, mas, paradoxalmente, prossegue sob um novo viés.

O governo turco se utiliza do Exército Islâmico para minar a resistência militar curda que combate ferozmente os jihadistas.

Essa estratégia turca se desenvolve pela livre passagem que voluntários do EI, procedentes de quase todas as partes da Europa, têm através das fronteiras turcas para ingressarem em território sírio, onde já têm territórios capturados e combatem o governo de Damasco.

As autoridades turcas ao mesmo tempo fecham os olhos para o trânsito de suprimentos militares, médicos e alimentares destinados ao EI que igualmente se processa através de seu território.

Essa revelação acaba de ser feita por fontes israelenses bem informadas.

O conflito armado entre a Turquia e os vários grupos rebeldes curdos data de 1978, com a criação do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que reivindica a criação de um Estado curdo independente no sudeste da Anatólia, a porção onde fica a região asiática da Turquia.

Desde o seu primeiro ataque em 15 de agosto de 1983, a violência gerada pelo conflito já causou perto de 40 mil mortes.

O PKK intensificou suas operações no sudeste do país após ter rompido um cessar-fogo unilateral em 2006.

A Turquia também atribuiu ao PKK vários atentados com bombas em Istambul e em outras cidades.

Combatentes do Exército Islâmico tomaram duas cidades, dois campos petrolíferos e têm atacado pontos estratégicos no norte do Iraque.

O avanço rápido do EI naquela região fez com que o governo iraquiano oferecesse apoio às forças curdas que atualmente confrontam os fanáticos.

Até então, as relações entre os curdos que vivem na região autônoma no norte do Iraque e as autoridades de Bagdá eram tensas.

Hoje, arrefecida a tensão, os curdos combatem o EI com o apoio da Força Aérea iraquiana.

A oposição turca, por seu lado, revela que nem todos os voluntários que se juntam ao Exército Islâmico são estrangeiros. "Cerca de 10% deles são turcos", diz um porta-voz da oposição.

Ao mesmo tempo, um dos mais respeitados jornalistas da Turquia, Cengiz Candar, escreveu recentemente que o serviço de inteligência de seu país foi a "parteira" que ajudou a dar vida ao movimento armado sunita.

"Desde 2012 –revela Candar– a Turquia fornece armas e apoio logístico aos fanáticos jihadistas que combatem o regime sírio e os esforços para a criação de um Curdistão autônomo", declara.


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