Folha de S. Paulo


Israel acelera colonização em Jerusalém Oriental apesar de tensão

O governo israelense decidiu acelerar um plano de construção de mais de 1.000 casas em Jerusalém Oriental, onde manifestantes e policiais protagonizam confrontos desde quarta-feira (22), depois que um palestino deixou dois mortos em um atropelamento.

O anúncio — que, segundo um integrante do partido palestino Fatah, provocará "uma explosão" —levanta temores de uma onda de violência generalizada entre os palestinos, que rejeitam a colonização da parte oriental da cidade sagrada.

Gali Tibbon/AFP
Palestinos trabalham na construção de novo projeto de habitação em bairro anexado de Jerusalém Oriental
Palestinos trabalham na construção de novo projeto de habitação em bairro de Jerusalém Oriental

No domingo (26) à noite foram registrados novos confrontos no momento em que os palestinos sepultavam, com um grande esquema de segurança, Abdelrahman Shalodi, que Israel acusou de matar um bebê e uma equatoriana de 21 anos em um "atentado terrorista" na quarta.

A polícia disparou contra o palestino de 21 anos depois que ele avançou com o carro contra um grupo de pessoas. A família de Shalodi afirma que foi um acidente.

Desde então, os distúrbios que aconteciam há alguns meses em Jerusalém Oriental ganharam ainda mais intensidade. Milhares de policiais foram enviados aos bairros palestinos para impedir os confrontos.

Segundo o Crescente Vermelho palestino, os distúrbios da noite deixaram 20 feridos. A polícia israelense anunciou a detenção de oito pessoas.

O epicentro dos distúrbios voltou a ser o bairro popular de Silwan, perto da cidade antiga e da Esplanada das Mesquitas. Quase 500 colonos israelenses vivem em meio a 45.000 palestinos no bairro, onde Shalodi morava.

O enterro do palestino ocorreu à meia-noite na presença de 50 pessoas autorizadas por Israel, enquanto centenas de jovens esperavam perto do cemitério Portão dos Leões, no Monte das Oliveiras, sob vigilância da polícia.

A família rejeitou, em um primeiro momento, as restrições impostas pela Justiça israelense para o funeral, que só permitiam a presença de 20 pessoas, cujos nomes deveriam ser apresentados à polícia, e exigiam que a cerimônia fosse realizada durante a noite.

CRISE EM JERUSALÉM

Abir Sultan/Efe
Judeus ultraortodoxos são vistos perto de corpo de mulher morta em atropelamento
Judeus ultraortodoxos são vistos perto de corpo de mulher morta em atropelamento

O governo israelense anunciou nesta segunda a decisão de acelerar um plano de construção de mais de 1.000 casas: mais de 400 em Har Homa e 600 em Ramat Shlomo, duas colônias judaicas de Jerusalém Oriental.

Em um período de grande tensão, a organização israelense contrária à colonização "Paz Agora" destacou que o anúncio foi feito em um momento ruim.

"Nunca é bom o momento de fazer coisas desse tipo, mas este é ainda pior, quando Jerusalém arde", disse à AFP Lior Amihai, porta-voz da organização.

"Esse tipo de medida unilateral levará a uma explosão", disse Jibril Rajub, alto dirigente do Fatah, o partido do presidente palestino Mahmud Abbas, em Ramallah, Cisjordânia.

A decisão deve ser criticada pela comunidade internacional, que considera a colonização um grande obstáculo para resolver o conflito israelo-palestino.

Os palestinos desejam transformar Jerusalém Oriental na capital do Estado ao qual aspiram, enquanto a comunidade internacional considera ilegal a anexação e ocupação por Israel dessa parte da cidade sagrada.

A colônia ultraortodoxa de Ramat Shlomo já provocou uma reação irritada do governo americano, quando Israel esperou a visita do vice-presidente Joe Biden para anunciar novas construções na área.

O gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu também adotou no domingo uma medida que, segundo os defensores dos direitos humanos, estimula "a segregação racial".

Agora, os trabalhadores palestinos em Israel não poderão entrar nos mesmos ônibus que os colonos para retornar à Cisjordânia.


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