Folha de S. Paulo


Movimento em Hong Kong é 'fiasco', diz embaixador

Os policiais de Hong Kong têm "agido da forma mais contida possível" diante dos protestos pró-democracia no território, responsáveis por "transtornos graves à economia" local.

A avaliação é do embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, para quem o movimento "já se tornou um fiasco". Nesta semana, policiais voltaram a reprimir manifestantes para impedir que uma rodovia fosse bloqueada. Houve uso de cassetetes e gás de pimenta.

O movimento reivindica eleição direta para escolha do próximo chefe do Executivo, em 2017, como acordado anteriormente. Há dois meses, Pequim afirmou que a votação terá como base uma lista pré-definida por um comitê, o que motivou a ocupação de ruas de Hong Kong.

"O governo chinês não tem espaço de recuo", afirmou o diplomata, em sua primeira manifestação sobre o assunto. Jinzhang ainda criticou reações externas sobre o tema - Londres já manifestou preocupação com a situação e Washington pediu moderação às partes.

"Assuntos de Hong Kong são puramente assuntos internos da China, nos quais nenhum outro país tem o direito de intervir." A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha, concedida por escrito.

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Folha - Por que o governo chinês mudou seu posicionamento sobre a forma de escolha do líder de Hong Kong?
Li Jinzhang - Não existe a chamada mudança do posicionamento do governo chinês. Será constituído um comitê de nomeação amplamente representativo que, de acordo com procedimentos democráticos, irá indicar 2 a 3 candidatos para concorrer à chefia do Executivo. Isso significa que em 2017 os mais de 5 milhões de eleitores aptos de Hong Kong poderão eleger o chefe do Executivo.

Será um avanço histórico no desenvolvimento da democracia em Hong Kong. Não se trata da eleição de um cargo de liderança suprema de um Estado nem de uma entidade política independente, mas sim uma eleição para o líder de uma região administrativa local da China. Perante este princípio, o governo chinês não tem espaço de recuo.

Os protestos pró-democracia em Hong Kong podem motivar manifestações semelhantes na China continental?
O movimento viola flagrantemente as leis e normas da RAEHK [Região Administrativa Especial de Hong Kong], promove reuniões ilegais para ocupar as principais avenidas, cerca e invade instituições governamentais, colocando em xeque a segurança pública. Os cidadãos no continente chinês estão conscientes da natureza ilegal e das consequências nocivas do movimento. A tendência dominante da população na China é a procura pela estabilidade. Qualquer ação que prejudique a segurança e estabilidade nacionais não serão aceitas pelo povo chinês de jeito nenhum.

A imprensa internacional destacou conflito entre polícia e manifestantes, com uso de bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Esse episódio pode arranhar a imagem do país?
As autoridades policiais de Hong Kong têm se empenhado em manter a ordem social e garantir a segurança pública, agindo da forma mais contida possível nas suas operações. A utilização de gás lacrimogêneo foi uma medida necessária para garantir a segurança física dos manifestantes e policiais depois de a polícia ter dado repetidas advertências e serem esgotadas as alternativas.

Cada vez mais impopular, [a manifestação] já se tornou um fiasco e chegou o momento de terminar. Em Hong Kong, qualquer opinião por parte de um cidadão que seja divergente da decisão [de Pequim], pode ser expressa e reivindicada de forma legal e razoável através dos canais adequados.

O governo chinês vê motivações externas para os protestos em Hong Kong?
Queria sublinhar o seguinte: Hong Kong é uma região administrativa especial da China. Os assuntos de Hong Kong são puramente assuntos internos da China nos quais nenhum outro país tem o direito de intervir. O governo chinês repudia firmemente a interferência das forças externas nos assuntos de Hong Kong. Os países devem ser prudentes nas suas ações e não devem intervir de qualquer forma, tampouco enviar qualquer sinal errado.


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