Folha de S. Paulo


Para autora, jornalismo crítico é vítima de disputa na Argentina

A jornalista Graciela Mochkofsky tem dois livros sobre importantes capítulos da história da mídia argentina.

O primeiro deles, "Timerman", é sobre o empresário de mídia Jacobo Timerman, que apoiou o golpe militar de 1966, mas foi perseguido pela última ditadura. Ele é pai do atual chanceler argentino, Héctor Timerman.

O outro,"O Pecado Original", relata a ligação entre o casal Kirchner e os donos do "Clarín", que começou em amizade e virou uma briga.

Veja abaixo trechos da conversa com a Folha.

O CAMPO

A TV por assinatura é o verdadeiro motor econômico do grupo. O maior faturamento, de longe, é dela, e não dos canais de TV ou dos jornais.

Esses são o espaço central onde se trava a batalha ideológica contra o governo. O diário é o central do grupo, o lugar de maior exposição.

E o jornal está passando por uma transformação, a ideia era dar mais força ao on-line. Mas a briga com o governo dificulta essa mudança, porque de 2008 para cá há uma guerra de sobrevivência, e o grupo perdeu quase todas as batalhas, sobretudo as econômicas.

AS ARMAS

A Lei de Mídia não causou o enfrentamento na Argentina. Ela foi um dos instrumentos que o governo usou, em parte, na batalha.

A maior motivação da lei era tentar destruir o grupo Clarín, diminuí-lo, algo que está acontecendo agora.

Mas ela já era reivindicada por amplos setores desde os anos 1980. Nós não enxergamos ainda todos os alcances da lei. Não está claro quais serão as consequências sociais.

O PÓS-GUERRA

Aconteceu uma grande polarização na Argentina, que se transferiu muito visivelmente aos meios de comunicação. Esse embate fez com que a disputa do governo com o Clarín ficasse mais visível.

Dividir a imprensa em facções fez com que a qualidade da informação na Argentina pagasse o preço. Os inimigos passaram a noticiar qualquer coisa do governo como algo diabólico. Não é uma visão crítica e independente.

E ao mesmo tempo surgiu um conglomerado de meios em que não há espaço para crítica ao governo.

É uma responsabilidade compartilhada, pois os donos dos jornais aceitaram as regras do confronto: quando o governo de Néstor, no começo, decidiu definir amigos e inimigos, os meios aceitaram.

Divulgação
Retrato da jornalista argentina Graciela Mochkofsky
Retrato da jornalista argentina Graciela Mochkofsky

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