Folha de S. Paulo


Presidente da UE diz ao Reino Unido que oposição à imigração é um erro

José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Europeia, disse ao primeiro-ministro britânico David Cameron, nesta segunda-feira (20), que ele corria o risco de incomodar seus aliados e perder influência internacional caso seguisse uma agenda de oposição à imigração com o objetivo de satisfazer os eleitores de seu país.

Barroso fez seu alerta depois de Cameron, que prometeu realizar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia caso vença a eleição de 2015, adotar uma posição mais dura sobre a restrição da migração entre os países do bloco e pedir a revisão de seu princípio de liberdade de movimento.

Cameron espera persuadir seus eleitores de que o Partido Conservador, que ele dirige, tem um plano funcional para resolver as preocupações deles quanto à imigração, e conter o crescimento no apoio ao Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), que combate a União Europeia e representa ameaça para suas perspectivas na eleição do ano que vem.

Barroso, cujo mandato de dez anos como presidente do braço executivo da União Europeia termina no mês que vem, já havia alertado Cameron no domingo (19) contra tentar promover mudanças nas regras de liberdade de movimento da União Europeia, afirmando que elas são essenciais para o mercado interno do bloco econômico.

Andy Rain/Efe
José Manuel Barroso, em discurso em Londres, alerta Reino Unido sobre isolamento da Europa
José Manuel Barroso, em discurso em Londres, alerta Reino Unido sobre isolamento da Europa

Em discurso na Chatam House, de Londres, segunda-feira, ele foi além e afirmou que, ao adotar retórica desse tipo quanto à imigração, o Reino Unido corre o risco de se isolar na Europa e de solapar suas tentativas de obter reformas mais amplas.

"Seria um erro histórico se, por conta dessas questões, o Reino Unido continuasse a alienar seus aliados naturais na Europa central e oriental", disse Barroso.

"É uma ilusão acreditar que espaço para diálogo possa ser criado se o tom e substância dos argumentos que você apresenta questionam o princípio em questão e ofendem os demais países membros", ele afirmou.

Cameron delineou em termos gerais as áreas em que deseja obter reformas na União Europeia, como os controles de migração, a retenção de poderes legislativos em nível nacional e a redução da burocracia para as empresas. Mas ele não ofereceu detalhes específicos.

Outros partidos britânicos também desejam reformas, mas não existe consenso sobre uma estratégia de renegociação.

Cameron vem dizendo há muito que gostaria que o Reino Unido permanecesse na União Europeia, desde que esta passe por reformas, mas Philip Hammond, o secretário do Exterior britânico, declarou na semana passada que o bloco teria de promover um acordo substancioso de reformas se desejasse evitar um rompimento.

AMIGOS

Barroso disse que embora compreendesse as preocupações dos eleitores britânicos com relação à Europa, o país deles havia se beneficiado do apoio das demais nações da União Europeia em questões geopolíticas como as negociações sobre a mudança do clima e as sanções contra a Rússia.
"Em resumo, será que o Reino Unido conseguiria se sair bem sem uma ajudinha dos amigos? Minha resposta é que provavelmente não", ele declarou.

O jornal "Sunday Times", citando fontes anônimas, reportou que Cameron desejava limitar o número de migrantes de baixa capacitação profissional de outros países da União Europeia que podiam se registrar para trabalhar no Reino Unido.

Barroso disse que embora os demais países da União Europeia estejam muito dispostos a acomodar as preocupações britânicas, era evidente a existência de linhas vermelhas que não poderiam ser transpostas. Ele disse que não via como uma restrição arbitrária à imigração pudesse ser aceita.

Na segunda-feira, Nick Clegg, primeiro-ministro assistente e líder dos Liberais Democratas, partido pró-europeu que governa o Reino Unido em coalizão com os conservadores, disse que seu país não seria tornado mais forte ou próspero caso deixasse o bloco.

O partido de Cameron estava sendo pressionado a se aproximar mais de um rompimento com a União Europeia por seu "pânico cego" diante da ascensão do Ukip, ele disse.

"Os conservadores agora adotaram uma estratégia que só tem um destino final, que é deixar de vez a União Europeia", disse Clegg a jornalistas.

O porta-voz oficial de Cameron disse que outros governos europeus também estavam estudando o impacto da imigração. Ele afirmou que o primeiro-ministro continuaria a defender reformas.

"É evidente que os arranjos atuais precisam ser mudados... e isso o que o primeiro-ministro defenderá", ele declarou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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