Folha de S. Paulo


Presidente da CNBB diz que sínodo não fará mudanças doutrinárias

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno Assis, que participa da Assembleia-Geral Extraordinária do Sínodo, no Vaticano, disse que o encontro visa discutir mudanças pastorais, mas não doutrinárias, em relação ao matrimônio e à homossexualidade.

Falando à Folha por telefone, de Roma, o cardeal admitiu que faltam relatos de "experiências concretas" dentro do sínodo com relação ao acompanhamento de homossexuais.

Joel Rodrigues/Folhapress
D. Raymundo Damasceno durante entrevista em Brasília
D. Raymundo Damasceno durante entrevista em Brasília

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Folha - Qual é a importância do documento preliminar "relatio" da Assembleia?

Dom Raymundo Damasceno - A partir das falas dos padres sinodais se fez a "relação depois das intervenções no plenário" [relatio post disceptationem]. Divulgada, ela teve grande repercussão, devido à sua abertura em diversas direções pastorais.

A partir desta quinta, entramos numa fase de preparação da mensagem que será aprovada no final do sínodo. Depois, será apresentada o Relatio Synodi, síntese do que foi trabalhado por consenso. Esse documento, a ser aprovado na última sessão, será objeto de estudo das conferências episcopais e das dioceses do mundo todo.

É um processo longo, que começou em 2013 e será concluído no final do sínodo, em outubro de 2015. As proposições, que chegam no máximo a 60, serão entregues ao papa e à Secretaria-Geral do Sínodo para que ele tome a decisão de publicar ou não.

Normalmente, se publica um documento chamado Exortação Pós-Sinodal, que se torna, uma vez aprovado pelo papa, o resultado final do sínodo, que vai orientar a igreja em todas essas questões relativas à família, tanto do ponto de vista doutrinal como do pastoral.

O documento abre a possibilidade para que a igreja altere a sua doutrina com relação aos homossexuais e ao divórcio?

No campo doutrinal, não muda. No campo pastoral, pode haver mais ou menos sensibilidade pelos padres sinodais.

Em princípio, fica claro que não se trata de discriminar ninguém, trata-se de acolher, apoiar e aconselhar. Mas as orientações finais serão dadas pelo papa.

A igreja, neste sínodo, não discute a doutrina sobre o matrimônio, a família. Para nós, o matrimônio é sempre a união de um homem e uma mulher. É uma união fundada no amor, com características próprias, a indissolubilidade, a fidelidade, a unidade.

Tampouco com relação a homossexuais. Para nós, a união entre pessoas do mesmo sexo não pode ser equiparada a um matrimônio e não pode ter os mesmos direitos que damos à família como fundamento da sociedade.

No sínodo, não apareceram experiências concretas em relação ao acompanhamento dessas pessoas. Mas, certamente, há experiência nesse campo e, nesse processo sinodal, aparecerão sugestões mais concretas.

Muitas vezes, o acompanhamento dessas pessoas fica limitado ao fórum íntimo, no confessionário, à consciência.

A reação negativa de alguns cardeais ao texto preliminar reflete uma divisão do sínodo?

Não é documento definitivo. A síntese dos problemas que emergiram das discussões é captada dentro da visão de quem faz essa síntese, do relator geral e do secretário especial, com outros membros da comissão.

Reflete os pontos mais importantes que foram tratados, mas ela em si não é votada.

Qual a diferença entre este sínodo e os anteriores?

Substancialmente, não houve. O que encontramos em relação ao papa Francisco é que ele é uma pessoa muito informal.

Isso cria um clima de muita abertura, muita transparência nos debates.

Ele disse aos padres sinodais para não temerem dizer aquilo que acham que devem dizer, que sentem que tenham o dever de dizer.

Que sejam abertos, sejam francos, tenham um diálogo muito aberto um com outro.


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