Folha de S. Paulo


Após aceno a gays, bispos pedem destaque às famílias fiéis ao Evangelho

Prelados católicos conservadores reagiram nesta terça (14) à divulgação de um documento do Vaticano que apresenta uma abertura sem precedentes em relação a gays e divorciados.

O documento preliminar "relatio", escrito por uma comissão de bispos após uma semana de debates durante a Assembleia-Geral Extraordinária do Sínodo (espécie de "parlamento" do catolicismo), diz que os gays têm dons a oferecer à igreja e que suas uniões, embora moralmente problemáticas, oferecem "apoio precioso para a vida de cada um dos parceiros".

O "relatio" defende ainda que a igreja acolha os divorciados e reconheça os aspectos "positivos" dos casamentos civis e mesmo dos católicos que vivem sem se casar.

O cardeal americano Raymond Burke disse que o "relatio" não reflete uma posição de consenso e acusou os liberais na comissão que preparou o texto de atropelar a assembleia. "O documento expõe posições que muitos participantes do sínodo não aceitam", disse.

O cardeal Stanislaw Gadecki, líder da conferência de bispos poloneses, reagiu caracterizando o documento de "inaceitável" e de desvio dos ensinamentos da igreja.

Já o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier disse ter certeza de que o documento final "mostrará a opinião geral, e não a de um grupo particular" do sínodo.

O cardeal alemão Reinhard Marx, porém, afirmou que o documento é "uma representação honesta de como o debate se desenvolveu".

DISPUTA INTERNA

O texto divulgado na segunda é provisório, e ainda será emendado até a divulgação da versão final após o fim do sínodo, no domingo (19).

Suas conclusões ainda serão debatidas no ano que vem, em outro sínodo, antes de entrarem em efeito.

A seção sobre os homossexuais foi escrita pelo bispo italiano Bruno Forte.

Nomeado pelo papa Francisco como secretário especial do sínodo, o teólogo defende a piedade em relação às pessoas em uniões "irregulares".

Nesta terça, o Vaticano divulgou uma nota relatando que os bispos "apreciaram" o esboço do documento, mas que alguns recomendaram emendas para a versão final.

Entre as sugestões está dar mais destaque às famílias católicas fiéis para evitar "um foco quase exclusivo em situações familiares imperfeitas", indicou a nota.

Os bispos pontuaram que a palavra "pecado" quase não é mencionada e recomendaram "prudência" em relação aos gays, "para que não se crie a impressão de que essa tendência tem uma avaliação positiva da igreja". O mesmo conselho foi feito em relação aos católicos que vivem juntos sem se casar.

Editoria de Arte/Folhapress

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