Folha de S. Paulo


ONU aponta crimes de guerra do Estado Islâmico no Iraque

Os insurgentes do Estado Islâmico no Iraque realizaram execuções em massa, raptaram mulheres e meninas que fizeram de escravas sexuais e usaram crianças como soldados, o que pode ser qualificado como crimes de guerra, declarou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (2).

Em um relatório baseado em 500 entrevistas com testemunhas, a ONU ainda informou que os ataques aéreos do governo iraquiano contra os militantes sunitas causaram um significativo número de mortes de civis ao atingir vilarejos, uma escola e hospitais, violando as leis internacionais.

Pelo menos 9.347 civis foram mortos e 17.386 ficaram feridos do início do ano até setembro –a maioria depois que os insurgentes islâmicos começaram a ocupar vastas áreas do norte do Iraque no início de julho, diz o relatório.

"A gama de violações e abusos perpetrados pelo Estado Islâmico e grupos armados associados a ele é estarrecedora, e muitos de seus atos podem equivaler a crimes de guerra ou crimes contra a humanidade", afirmou o novo Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al Hussein.

Em um comunicado, ele voltou a pedir ao governo de Bagdá que se filie ao Tribunal Penal Internacional, afirmando que a corte de Haia foi criada para processar tais abusos e agressões diretas contra civis com base em seu grupo religioso ou étnico.

As forças islâmicas cometeram graves violações de direitos humanos e atos de violência de "uma natureza sectária crescente" contra grupos como cristãos, yazidis e muçulmanos xiitas em um conflito cada vez mais disseminado, que já forçou 1,8 milhão de iraquianos a fugirem de seus lares, de acordo com o relatório de 29 páginas do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU e da Missão de Assistência da ONU para o Iraque (Unami, na sigla em inglês).

"Entre eles estão ataques que visam diretamente civis e infraestrutura civil, execuções e outras mortes premeditadas de civis, sequestros, estupro e outras formas de violência sexual e física perpetradas contra mulheres e crianças, recrutamento forçado de crianças, destruição ou profanação de locais de importância religiosa ou cultural, destruição gratuita e saque de propriedades e recusa de liberdades fundamentais."

VIOLAÇÕES

Em um único massacre em 12 de junho, segundo o relatório, cerca de 1.500 soldados iraquianos e agentes de segurança da antiga base militar americana de Speicher, na província de Salahuddin, foram capturados e mortos por combatentes Estado islâmico.

Em agosto, o EI levou cerca de 450 mulheres e meninas à cidadela de Tal Afar, na região de Nínive do Iraque, de onde 150 meninas e mulheres solteiras, predominantemente yazidis e cristãs, teriam sido transportadas para a Síria para serem dadas aos combatentes como uma recompensa ou para serem vendidas como escravas sexuais.

O EI também destruiu lugares de importância religiosa e cultural no Iraque.

IRAQUE

O relatório também expressa preocupação com as violações cometidas pelo governo iraquiano e pelos combatentes aliados, incluindo ofensivas aéreas e bombardeios que podem não ter feito distinção entre alvos militares e áreas civis.

São citados os ataques aéreos e bombardeios da artilha, que não levam em conta os princípios de distinção e proporcionalidade estabelecido pelo direito humanitário internacional.

"Grupos armados filiados ou apoiados pelo governo também praticaram assassinatos seletivos, incluindo de milicianos do EI capturados, e sequestros de civis", afirmou o relatório.


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