Folha de S. Paulo


Diplomatas veem 'contenção da China' em visita de premiê da Índia aos EUA

O governo americano esbanjou hospitalidade com o novo primeiro-ministro indiano, Nahendra Modi. O presidente Barack Obama manteve dois encontros com ele na Casa Branca, um jantar privado na noite de segunda-feira (29) e uma reunião de trabalho na terça (30).

Ele também foi recebido em um almoço nesta terça (30) no Departamento de Estado, com convidados como o secretário de Estado, John Kerry, o vice-presidente, Joe Biden, e a líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi.

Kerry cancelou sua viagem ao Afeganistão, onde assistiria à posse do novo presidente afegão, para receber o indiano.

Na segunda-feira, Modi teve um café da manhã com 11 presidentes de grandes empresas americanas e um encontro particular com o casal Hillary e Bill Clinton.

Até o início deste ano, Modi tinha o visto negado para visitar os EUA, acusado de omissão em uma onda de violência que matou cerca de mil muçulmanos quando governava seu Estado natal, Gujarat, em 2002.

Ao se tornar favorito nas pesquisas eleitorais, a proibição foi revista.

Não faltaram sinais da importância que o governo americano dedica a Índia em uma relação, apelidada por diplomatas, de "contenção da China". Obama e Modi assinaram juntos um artigo publicado nesta terça no jornal "Washington Post" em que falam de uma parceria estratégica para o século 21 e de que ambos países são "parceiros globais".

Seu antecessor, Manmohan Singh, foi recebido em duas visitas de Estado na Casa Branca.

Mas o primeiro-ministro não indicou nenhuma resolução aos inúmeros contenciosos comerciais entre os dois países na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas agradou os anfitriões ao prometer que a indústria americana de defesa é bem-vinda a desenvolver a capacidade militar indiana.

Na viagem de cinco dias aos EUA, Modi discursou no Council on Foreign Relations, um centro de estudos de relações internacionais, onde prometeu desburocratizar o país e facilitar o investimento estrangeiro. Ele condenou o grupo terrorista Isis, mas não mencionou participação de seu país na coligação para combater o terrorismo na Síria e no Iraque.

Em uma demonstração de força da diáspora indiana nos EUA, o lobby indiano fechou o Madison Square Garden, um dos principais ginásios para shows de Nova York, para que Modi discursasse aos indianos-americanos. Mais de 19 mil presentes o aplaudiram em um evento que parecia um comício. Do lado de fora, dezenas de ativistas com cartazes diziam "Não esquecemos o massacre em Gujarat".

Os banquetes a Modi sofreram uma situação inusitada: como Modi está em um período de jejum religioso, os nove dias da celebração hindu de Navrati, ele não tocou nos pratos que eram servidos a seus companheiros de mesa. Na Casa Branca, diante de Obama, Kerry e outros dezoito convidados, Modi se serviu apenas de um copo de água quente.


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