Folha de S. Paulo


Papa destitui bispo paraguaio acusado de proteger padre suspeito de abusos

O papa Francisco destituiu um bispo paraguaio acusado de proteger um padre suspeito de abuso sexual, segundo informou o Vaticano nesta quinta-feira (25).

Segundo o comunicado, o bispo Rogelio Ricardo Livieres Plano, 69, foi retirado da chefia da diocese de Ciudad del Este –cargo que ocupava desde outubro de 2004, após ter sido nomeado pelo papa João Paulo 2º.

A medida vem na esteira de outras ações do Vaticano para punir sacerdotes envolvidos em casos de abusos sexuais, intensificadas desde o papado de João Paulo 2º.

A punição se seguiu a uma investigação do Vaticano a respeito de Livieres, da diocese e de seus seminaristas, afirma o documento.

Fontes do Vaticano disseram que o bispo se recusou a renunciar ao posto após apuração de relatos de irregularidades em sua diocese.

Livieres, ligado ao grupo conservador católico Opus Dei, havia também se tornado uma figura polarizadora na igreja do Paraguai e frequentemente entrava em confronto com clérigos mais progressistas.

Durante a investigação do Vaticano, Livieres promoveu em sua diocese o padre acusado de abuso sexual enquanto servia nos EUA.

Representantes da igreja paraguaia foram avisados por um bispo norte-americano de que o padre, que é argentino, era uma "séria ameaça aos jovens", segundo relatos.

Livieres disse que as acusações contra eles não tinham fundamento. Em carta ao comando da Congregação para os Bispos, ele afirmou que a decisão foi "infundada e arbitrária".

"O papa terá de responder a Deus, e não a mim", escreveu na carta, publicada no site da diocese paraguaia, que não citava a acusação de abrigar o suspeito de abusos.

O Vaticano disse que o papa Francisco tomou a "decisão onerosa" de remover Livieres após um cuidadoso exame dos resultados da investigação.

Ele havia dito anteriormente que bispos que encobrissem abusos iriam ser responsabilizados.

O pontífice argentino prometeu tolerância zero contra clérigos católicos que abusarem de menores. Em maio, Francisco comparou os casos a uma "missa satânica".

Segundo o embaixador do Vaticano no Paraguai, arcebispo Eliseo Ariotti, decisões sobre o futuro do padre suspeito de pedofilia ficarão a cargo do novo administrador da diocese, Ricardo Valenzuela, bispo de Villarrica.

Ariotti afirmou que o processo disciplinar contra Livieres proíbe o bispo de rezar missas em público.

PRISÃO

A destituição do bispo paraguaio ocorre dois dias após o papa ter aprovado a prisão, no Vaticano, de um ex-arcebispo acusado de pagar para fazer sexo com crianças enquanto era embaixador papal na República Dominicana.

O polonês Jozef Wesolowski, 66, foi deposto por um tribunal do Vaticano em junho e aguardava em prisão domiciliar seu julgamento.

A prisão de Wesolowski foi a primeira feita na cidade-Estado em relação a um acusado de pedofilia.

O ex-arcebispo é a pessoa de mais alta hierarquia da Igreja Católica a ser presa desde Paolo Gabriele, mordomo papal condenado em 2012 por ter vazado documentos privados do papa Bento 16.


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