Folha de S. Paulo


Israel mata dois suspeitos pelo sequestro de jovens judeus

O Exército de Israel matou nesta terça-feira (23) dois suspeitos pelo sequestro, em junho, de três adolescentes israelenses. Outras três pessoas que podem estar envolvidas no caso foram detidas.

A ação militar desagradou a liderança palestina e ameaçou, durante a manhã, azedar as negociações no Cairo pela manutenção do cessar-fogo acordado em 26 de agosto e prestes a expirar.

A morte dos jovens israelenses havia sido uma das razões para a escalada da violência que culminou, em julho, na operação Margem Protetora na faixa de Gaza.

O primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu parecia ter cumprido, assim, a promessa de encontrar os sequestradores. "Eu disse, nos dias após o assassinato, que íamos perseguir o inimigo", afirmou o premiê. "Nesta manhã, conseguimos."

Os dois suspeitos foram mortos durante uma operação militar israelense em Hebron, na Cisjordânia. A facção palestina Hamas, que controla a faixa de Gaza, confirmou as informações.

Testemunhas dizem que os soldados israelenses cercaram a casa. Sons de tiros foram ouvidos. Havia também um trator militar nas imediações. "Abrimos fogo, eles revidaram e foram mortos na troca", afirmou o porta-voz militar Peter Lerner.

De acordo com a Inteligência israelense, os mortos são Marwan Qawasmeh e Amer Abu Aisha. Ambos eram procurados há meses pela morte dos israelenses Eyal Yifrah, 19, Gilad Shaar, 16, e Naftali Frenkel, 16, em 12 de junho na Cisjordânia.

O sucesso em se esconderem das forças israelenses, que têm rígido controle nos arredores, era apontado durante o dia como demonstração dos limites do Exército. Mas a morte e captura de suspeitos devem servir a Netanyahu para ganhar força em sua frágil coalizão.

As negociações de cessar-fogo realizadas entre Israel e palestinos no Cairo, porém, não serão beneficiadas. A notícia da ação militar em Hebron levou, segundo relatos, a consultas de urgência entre a delegação palestina. Mas as discussões foram mantidas, apesar da tensão.

À Folha Husam Zomlot, um líder na comissão de relações internacionais da facção palestina Fatah, confirmou a manutenção das negociações. Mas disse que "estamos vivendo em um estágio de grande tensão" e que "tudo pode servir de gatilho".

O Fatah e o Hamas insistem, no Cairo, que Israel encerre o bloqueio a Gaza e permita a construção de um porto e um aeroporto ali. As exigências são vistas como irreais, entre analistas.

"Não acredito que Israel vá abrir Gaza", diz Zomlot. "A questão agora é o quanto podemos pressionar eles."

A chancelaria israelense e o escritório do premiê Netanyahu não estão comentando as negociações no Cairo.

Para o professor israelense Eyal Zisser, da Universidade de Tel Aviv, ambas as partes têm interesse em manter o cessar-fogo e, assim, as mortes em Hebron não devem causar a interrupção do diálogo. "Mas o fosso entre eles é largo", diz o especialista.

Israel pede, afinal, que a faixa de Gaza seja desmilitarizada, o que o Hamas diz não estar disposto a fazer. Para Zisser, o cenário mais provável é uma atenuação do bloqueio ao estreito de terra, sem a sua abertura.

SÍRIA

As negociações pela trégua em Gaza foram temporariamente ofuscadas, em Israel, pela notícia do abate de um avião militar sírio por um míssil israelense na fronteira norte. A aeronave teria voado por 800 metros dentro do território israelense antes de ser derrubado. Foi a primeira vez que Israel derrubou um avião sírio desde a Guerra do Líbano, nos anos 1980.

De acordo com informações da mídia local, os pilotos haviam percebido o engano e já retornavam à Síria.


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