Folha de S. Paulo


Irã quer trocar apoio contra facção por concessões nucleares, dizem fontes

O Irã está pronto para trabalhar com os Estados Unidos e seus aliados para combater os militantes Estado Islâmico, mas gostaria de ver mais flexibilidade com o programa de enriquecimento de urânio do Irã, autoridades iranianas disseram à Reuters.

Os comentários das autoridades, que pediram para não ser identificadas, destacam a dificuldade para as potências ocidentais manterem as negociações nucleares separadas de outros conflitos regionais.

O Irã exerce influência na guerra civil da Síria e no governo iraquiano, que está lutando contra o avanço dos combatentes do Estado Islâmico.

O Irã enviou sinais contraditórios sobre sua vontade de cooperar na luta contra o Estado Islâmico, uma milícia sunita radical que apreendeu grandes faixas de território em toda a Síria e Iraque e é responsabilizado por uma onda de violência sectária, decapitações e massacres de civis.

O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, disse recentemente ter vetado uma proposta dos EUA ao Irã para trabalharem juntos contra o Estado Islâmico, mas autoridades norte-americanas disseram que não houve tal pedido. Oficialmente, tanto Washington quanto Teerã descartam a possibilidade de cooperar militarmente na luta contra a facção.

Mas, em particular, as autoridades iranianas têm manifestado vontade de trabalhar com os EUA contra o Estado Islâmico, embora não necessariamente no campo de batalha.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse na sexta-feira (19) que o Irã tem um papel a desempenhar na derrota Estado Islâmico, indicando que a opinião americana também pode estar mudando.

Kerry e o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Yavad Zarif, tiveram uma reunião no domingo (21), na qual discutiram o estado das negociações internacionais nucleares e a ameaça representada pelo EI.

NEGOCIAÇÃO NUCLEAR

"O Irã é um país muito influente na região e pode ajudar na luta contra os terroristas do EI. Mas é uma via de mão dupla. Você dá algo e você recebe alguma coisa", disse uma autoridade iraniana.

"O EI é uma ameaça à segurança mundial, não o nosso programa (nuclear), que é um programa pacífico", acrescentou a autoridade.

Teerã rejeita as alegações ocidentais de que está acumulando a capacidade de produzir armas atômicas sob a cobertura de um programa civil de energia nuclear.

Outra autoridade iraniana corroborou os comentários. Ambas disseram que gostariam que os EUA e seus aliados ocidentais mostrassem flexibilidade sobre o número de centrífugas atômicas que Teerã poderia manter sob qualquer acordo de longo prazo que levante as sanções em troca de restrições no programa nuclear de Teerã.

"Ambos os lados podem mostrar flexibilidade, que vai levar a um número aceitável para todos", disse a autoridade iraniana.

Representantes ocidentais disseram à Reuters que o Irã não havia cogitado essa ideia nas negociações nucleares com os EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Rússia e China, retomadas em Nova York na sexta-feira.

Os países tentam chegar a um acordo definitivo que retire as sanções ocidentais em troca de cortes no programa nuclear iraniano.

Um acordo temporário já está em vigor e o prazo para alcançar o acordo final é 24 de novembro.


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