Folha de S. Paulo


Vitória do 'sim' na Escócia desfalcaria cena cultural britânica

"Escolha uma vida, escolha um trabalho, escolha uma carreira, escolha uma família, escolha uma porcaria de uma TV." O texto do escocês Irvine Welsh abre a cena de perseguição em Edimburgo. A enumeração continua enquanto Spud e Renton, jovens viciados vividos pelos também escoceses Ewem Bremner e Ewan McGregor, fogem de seguranças.

Com enredo sobre escolhas dos jovens escoceses, "Trainspotting" foi lançado em 1996, no auge do "britpop" –renascimento da música, das artes e do cinema britânico motivado pelo entusiasmo com a volta dos trabalhistas ao poder.

Baseado na obra de Welsh e filmado com atores escoceses, trazia os dilemas da juventude local, tentando encaixar-se no Reino Unido dos anos 90.

Se o "sim" ganhar, o Reino Unido perderá uma importante representação artística, e não se trata só de desfalques no time de bandas pop, de Jesus & Mary Chain a Travis, Teenage Fanclub e Primal Scream.

Também vencedores recentes do prêmio Turner (dado a artistas plásticos britânicos) Martin Creed e Douglas Gordon e autores como Alasdair Gray, James Robertson (indicado ao Man Booker Prize) e o próprio Welsh, a favor do "sim".

Nos últimos meses, artistas e intelectuais escoceses se dividiram com relação à independência. Em geral, os de uma geração anterior, como Rod Stewart, são contra, enquanto os mais novos, a favor.

"Sou um homem de poucas palavras e, hoje, de apenas uma palavra: Sim", disse Alex Kapranos, vocalista do Franz Ferdinand, num show no domingo em Edimburgo, com bandas pró-independência.

Kapranos parece ter agarrado a bandeira do ator Sean Connery, o 007, outro escocês independentista.

Defensores do "sim" apoiam-se na tradição cultural escocesa de se manter progressista nos anos conservadores de Margaret Thatcher (1979-1990). Para James Robertson, "os artistas sempre foram um parlamento não oficial, uma oposição baseada na identidade nacional escocesa".

Já gestores de grandes instituições se posicionam contra, como James Holloway, ex-diretor da Scottish National Portrait Gallery. "Nossas galerias recebem milhares de libras de fundações de caridade que são permitidas só para órgãos britânicos. Isso vai acabar."

Enquanto um documento foi assinado por 1.300 artistas escoceses pró-independência, pares famosos da Inglaterra, como Mick Jagger, David Bowie e Paul McCartney, filiaram-se à campanha "Let's Stay Together" (vamos ficar juntos).

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página: