Folha de S. Paulo


Plebiscito escocês pode causar descentralização no Reino Unido

A promessa do governo britânico e da oposição de dar mais poderes à Escócia, em troca do voto contra sua independência, deve beneficiar Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, os outros três membros do Reino Unido.

Diante disso, o saldo do plebiscito de separação nesta quinta-feira (18), mesmo que seja contra a separação escocesa, pode caminhar para uma reforma constitucional sem precedentes na história britânica.

O principal impacto seria uma descentralização dos poderes do Parlamento britânico –o preço a ser pago por Londres para manter o reino literalmente unido.

As recentes pesquisas têm mostrado um cenário equilibrado entre os escoceses, com o "não" (contra a independência) numericamente na frente, mas com o "sim" encostado, dentro da margem de erro dos levantamentos.

Diante do cenário equilibrado, o primeiro-ministro David Cameron (Partido Conservador) anunciou na semana passada a discussão de um pacote de "devolução de poderes" aos escoceses até o começo de 2015, antes das eleições gerais de maio.

Cameron, que nesta segunda-feira (15) voltou à Escócia para pedir o voto pelo "não", tem o apoio do seu vice-primeiro-ministro, Nick Clegg (Liberal-Democrata), e do líder da oposição, Ed Miliband (Trabalhista).

No caso, o Parlamento regional da Escócia, hoje com poderes limitados por Londres, ganharia mais autonomia política, fiscal, orçamentária e de gestão em serviços, entre eles o de saúde (NHS).

A capa do jornal escocês "Daily Record" desta terça-feira (16), divulgada na noite passada pela BBC, traz um documento assinado pelas lideranças se comprometendo com essa reforma.

A reação já tem sido vista por parte de Irlanda do Norte, País de Gales e regiões da Inglaterra. Coube ao vice-primeiro-ministro sinalizar que as medidas devem ser ampliadas.

"Não vamos embarcar em uma significativa devolução de poderes para a Escócia sem estender o debate sobre como descentralizá-los por todo o Reino Unido", disse Nick Clegg.

Na última quinta-feira (11), Leighton Andrews, membro da assembleia do País de Gales e secretário dos Serviços Públicos da região, deu o tom da cobrança.

"Eu não tenho nenhuma dúvida de que estamos a caminho de reforma constitucional radical no Reino Unido, independentemente do resultado do plebiscito."

Regiões da Inglaterra também vão reivindicar mais autonomia ao governo central.

"O que é bom para a Escócia é também para os demais. O princípio da descentralização tem de ser ampliado a todos", afirmou Graham Allen, que representa no Parlamento britânico a cidade de Nottingham, na região central da Inglaterra.

Editoria de Arte/Folhapress
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