Folha de S. Paulo


Outro lado: Para opositores, ideia pode causar ruptura social

O projeto de extraditar torturadores e julgá-los na Argentina, ou a própria ideia de anular a lei de anistia e lidar em solo espanhol com os crimes da ditadura são recebidos na Espanha como ações que podem causar, em vez da paz, uma ruptura social.

"Decidimos, durante a transição, que precisávamos olhar para o futuro se quiséssemos conviver", diz à Folha Lucio Peñacoba, membro do partido Democracia Nacional, contrário à Querella.

"Se querem fazer justiça, têm de fazer para todos, prendendo todos os que foram soltos. Se é para fazer justiça só contra membros da ditadura, não é justiça. É vingança."

A reportagem falou com José Utrera Molina pelo telefone, mas ele não concordou em ser entrevistado.

Molina, acusado de ser um dos principais torturadores durante a ditadura Franco, disse apenas que "não era um membro ativo" na época em que os abusos ocorreram. Ele também disse estar doente e incapacitado para conversar.

A Folha procurou também a Fundação Nacional Francisco Franco, que defende o legado do ex-ditador, e a organização Fuerza Nueva. Ambas recusaram o convite para serem entrevistadas.

Da mesma maneira, o Partido Popular, liderado pelo atual premiê, Mariano Rajoy, afirmou não ter interesse em participar desta reportagem.

O Ministério da Justiça notou, por sua vez, que os pedidos de extradição foram negados por tribunais sem a interferência do governo, a partir da tese de que os crimes já estão prescritos.

"Segundo a lei espanhola, o delito de tortura é prescrito após dez anos de ter sido cometido, e as primeiras denúncias chegaram em 2010 sobre atos cometidos, supostamente, entre 1971 e 1975."

A Querella Argentina afirma, porém, que os crimes da ditadura, por afetarem a humanidade em seu conjunto, não podem ser prescritos.


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